quarta-feira, 14 de julho de 2010


Descoberta nova espécie de pererecaUma perereca nativa do cerrado, com 3,5 cm de comprimento pode ser a esperança no combate ao Trypanosoma cruzi, parasita que causa a doença de Chagas. Estima-se que o mal atinja cerca de 18 milhões de pessoas em todo o mundo; quase 4 milhões no Brasil. A pequena perereca, Phyllomedusa oreades -- ainda sem nome popular --, traz na pele um princípio ativo, chamado dermaseptina, que já está sendo estudado por uma equipe de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com resultados animadores.
A descoberta amplia o conhecimento sobre o cerrado, segundo maior bioma brasileiro e um dos mais ameaçados. Ao mesmo tempo, chama a atenção para a necessidade de mais pesquisas sobre os anfíbios brasileiros. O número de espécies descritas dessa classe ainda é pequeno se comparado à sua biodiversidade, que se revela surpreendente.

A nova espécie descoberta pelo herpetólogo Reuber Brandão, do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília, foi descrita no Journal of Herpetology. A Phyllomedusa oreades é endêmica das terras altas do Planalto Central, regiões com altitudes superiores a 900 m. Pode ser encontrada em áreas da chapada dos Veadeiros, na serra dos Pirineus, nas partes altas da serra da Mesa e no Distrito A perereca tem coloração dorsal verde com desenhos reticulados nas cores preta, sépia e púrpura sobre um fundo amarelo ou laranja nas laterais do corpo. Vive em pequenos riachos de águas cristalinas, com fundo de pedras, nos campos rupestres típicos de montanhas. Durante o longo período de seca do cerrado, o animal abriga-se sob os cupinzeiros, onde a temperatura mais baixa e a umidade são vitais para sua sobrevivência.

Como parte da respiração das pererecas se dá pela pele, elas necessitam de umidade para manter sua fisiologia em funcionamento. É comum aos anfíbios a existência de secreções de pele com diferentes funções, destacando-se a proteção contra predadores e agentes infecciosos. Muitas das secreções dos anfíbios são conhecidas por serem biologicamente ativas, em sua maioria, alcalóides, aminas e peptídeos.

Na pele das espécies do gênero Phyllomedusa, encontra-se uma classe de peptídeos antimicrobianos chamados phyllomedusinas. Na nova espécie, é essa dermaseptina que pode agir contra o Trypanosoma cruzi, sem apresentar toxidade às células sangüíneas in vitro. Os primeiros resultados dessas pesquisas estão publicados no Journal of Biological Chemestry, em artigo escrito em conjunto por pesquisadores brasileiros, chefiados pelo químico Carlos Bloch, do Laboratório de Espectometria de Massa da Embrapa.

Campeão em anfíbios

O Brasil possui rica diversidade em espécies de anfíbios. Está entre as maiores do mundo, com cerca de 550 espécies conhecidas, sendo 150 delas registradas no cerrado. Mas esse é um número considerado pequeno diante do que o bioma ainda esconde. "Esse fato mostra o quanto estamos longe de um conhecimento minimamente satisfatório em relação às nossas espécies, sobretudo no cerrado", diz Reuber Brandão. Falta de recursos para pesquisas e a velocidade com que se destrói o bioma são fatores que impedem o avanço das investigações.

"No primeiro caso, ainda se pode recuperar o tempo perdido. Resta saber se no futuro haverá cerrado para abrigar as espécies ainda não estudadas", questiona. A lista oficial do Ibama apresenta 16 espécies de anfíbios em perigo de extinção. Número que, provavelmente, é bem maior considerada a escassez de dados sobre as perdas da biodiversidade nacional.

Os anfíbios apresentam alto grau de endemismo -- várias espécies vivem apenas em áreas restritas com condições ambientais específicas. Se a área for degradada e essas condições desaparecem, muitas espécies podem ser extintas. Devido às suas características fisiológicas, sobretudo aquelas relacionadas à sua pele, os anfíbios são animais muito suscetíveis à contaminação química das águas, explica Brandão. Para ele, a introdução de espécies invasoras, as mudanças climáticas globais, os desmatamentos e a diminuição da camada de ozônio são fatores que põem em risco a vida desses animais.

Com pele permeável e ovos aquáticos envolvidos por uma delgada camada gelatinosa, os anfíbios absorvem rapidamente substâncias diluídas no meio à sua volta. "Por necessitarem de boa qualidade dos ambientes para a reprodução, são excelentes indicadores ambientais. Sua presença pode denunciar a saúde do ecossistema que habita" diz o herpetólogo.

Fonte: Revista Ciência Hoje

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