domingo, 15 de abril de 2012


O pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) é uma das espécies de aves aquáticas mais raras do mundo, considerada criticamente em perigo de extinção em nível global segundo a União Mundial para a Natureza - UICN.

Características Morfológicas

Destaca-se o longo penacho nucal e os pés vermelhos. O bico negro é longo, estreito e serrilhado nas bordas.

É uma ave delgada, com comprimento total entre 48 e 55 cm e peso médio de 800 gramas.

A cabeça e o pescoço são escuros, com reflexos verde-metalizados. O dorso, a cauda e as asas são cinza-amarronzados, enquanto o peito e o abdome são mais claros, com um discreto estriado.

Não existe diferença externa entre o macho e a fêmea, mas quando o casal é visto junto, é possível perceber que os machos em geral são ligeiramente mais robustos. Na estação reprodutiva, o penacho das fêmeas se danifica, ficando bem mais curto, o que facilita a identificação dos sexos.

Distribuição

Esta espécie é originalmente encontrada no Brasil, Paraguai e Argentina.

No Brasil, nas últimas décadas, o pato-mergulhão tem sido registrado em apenas algumas localidades nos estados de Minas Gerais, Goiás e Tocantins. Na região da Serra da Canastra, em Minas Gerais, encontra-se a maior população conhecida desta espécie.

Alguns poucos indivíduos foram observados isoladamente há mais de uma década no Paraguai e Argentina. Não se tem conhecimento do tamanho destas populações nestes países.

Habitat

O pato-mergulhão habita rios e riachos de águas límpidas, com corredeiras e margeados por vegetação nativa.

Alimentação

Alimenta-se principalmente de peixes e também de invertebrados aquáticos. Na Serra da Canastra o seu principal item alimentar é o lambari.

Os peixes são capturados nos mergulhos, que podem durar até 30 segundos.

Vocalização

Apresenta diferentes vocalizações. A mais evidente é similar ao latido agudo de um cachorro. Sua chamada de alarme é um áspero “crók-crók” realizada principalmente durante o vôo, além de um suave chamado de contato − “rrek-rrek-rrek”.

Comportamento

O casal permanece junto durante todo o ano. Descansam sobre as pedras no meio do rio ou em suas margens e, quando perturbados, voam rapidamente rente à superfície da água ou se escondem na vegetação ribeirinha. Além de raro, é muito arisco e, por isso, é tão difícil de ser visto.

O período reprodutivo estende-se de maio a setembro, sendo junho e julho os meses mais comuns para a incubação e a eclosão dos ovos.

Os ninhos são construídos em ocos de árvores, fendas em paredões rochosos e em cavidades de barrancos de terra nas margens dos rios.

A postura é de até oito ovos. Durante a incubação, a fêmea permanece no ninho, saindo apenas pra alimentar-se, enquanto o macho passa a maior parte do tempo nas proximidades.

Os filhotes acompanham os pais por cerca de seis meses.

Ameaças

O pato-mergulhão é extremamente sensível à degradação e perda de seu ambiente natural. Por isso é considerado um bom indicador da qualidade dos ambientes aquáticos.

Dentre as maiores ameaças a esta espécie estão:

- a destruição de matas ciliares e conseqüente perda de árvores de maior porte, e a degradação das margens e dos leitos dos cursos d’água

- o uso de pesticidas nas pastagens e lavouras que são carregados para os cursos d’água

- a mineração, que impacta diretamente os cursos d’água e, consequentemente, sua fauna associada

- a construção de barragens, as quais modificam profundamente os ambientes aquáticos

- as atividades esportivas mal planejadas realizadas ao longo dos cursos d´água

Fonte: Instituto Terra Brasilis

domingo, 18 de setembro de 2011

Diversidade biológica do bioma Cerrado é a segunda maior do Brasil



No dia 11 de setembro de 2011 foi comemorado o Dia do Cerrado. Trata-se do segundo maior bioma brasileiro, tanto em extensão (ocupa 24% do território nacional), quanto em diversidade biológica - fica atrás apenas da Amazônia. A riqueza dessa savana tropical é tamanha que ainda são limitados os conhecimentos que se têm dos seus recursos naturais. "A diversidade biológica do Cerrado está ainda na fase de caracterização, não sabemos ao certo quantas ou quais espécies existem. Há apenas estimativas, especialmente quando se fala de invertebrados", afirma Amabílio Camargo, biólogo da Embrapa Cerrados, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

De acordo com o estudioso, doutor em entomologia (ciência que estuda os insetos), estima-se que a diversidade entomológica do Cerrado seja de mais de 90 mil espécies. "A Embrapa Cerrados possui uma coleção representativa de insetos. São cerca de 90 mil exemplares de mais de 20 mil espécies", informa. O biólogo explica que o objetivo de se manter uma coleção desse tipo é reunir dados referentes à biodiversidade da fauna entomológica da região. "Juntamente com os insetos, são organizadas informações sobre local e época de ocorrência, biologia e plantas hospedeiras", explica.

Mas, algumas pessoas poderiam questionar a importância de se coletar, quantificar e identificar essas espécies, já que se trata de uma atividade delicada e trabalhosa - a identificação de insetos muitas vezes requer procedimentos sofisticados e extremamente especializados. De acordo com Amabílio Camargo, essa identificação é importante, pois os insetos estão envolvidos em vários processos e interações ecológicas, destacando-se alguns serviços ambientais como a polinização, dispersão de sementes, ciclagem de nutrientes e a regulação das populações tanto de plantas como de outros animais. "E ao contrário do que acredita a maior parte das pessoas, apenas um pequeno percentual deles, de 8 a 13%, são pragas com alguma importância econômica", observa.

INDICADORES AMBIENTAIS

Mariposas, por exemplo, podem ser utilizadas como indicadoras de sustentabilidade ambiental, explica o biólogo da Embrapa Cerrados. Somente no Cerrado, são conhecidas cerca de 10 mil espécies desses insetos, que possuem hábitos noturnos e se apresentam com poucas cores; ao contrário das borboletas, que possuem hábitos diurnos e são coloridas. Amabílio Camargo explica que muitas dessas mariposas não migram de uma região para outra, ou seja, morrem no mesmo local em que nascem. "Por isso, podem ser um interessante indicador do grau de degradação ambiental de uma área", afirma.

Pesquisas desenvolvidas na Embrapa Cerrados, localizada em Planaltina (DF), estudam justamente insetos com essa característica. "Uma maior diversidade das mariposas residentes, isto é, que não migram, pode sugerir que o local é mais preservado. Caso elas não estejam presentes, indicamos a necessidade de intervir e fazemos algumas recomendações", explica.

Para coletar esses animais, que atingem a fase adulta na época das chuvas, a estratégia dos cientistas é simples: uma lâmpada acesa no meio de seu habitat atrai milhares delas. E a vantagem é que esse procedimento é seletivo. "Apenas as que são de interesse da pesquisa são coletadas para avaliações no laboratório". De acordo com o biólogo, há muitas vantagens neste tipo de coleta. "Podemos ter uma amostra significativa da população, sendo que é relativamente barato montar uma expedição para a captura e observação desses animais", relata.

Nessa época do ano, quando as queimadas acabam se intensificando por conta da seca, as mariposas passam a maior parte do tempo em casulos, enterradas no solo, ou no meio de folhas. Isso as impedem de fugirem em caso de incêndios. Nesse sentido, o biólogo faz um alerta. "Se a ocorrência de fogo for frequente numa mesma área, a população de mariposas, especialmente as polinizadoras, acabará sendo ameaçada. Isso ocasionará, por exemplo, a diminuição da quantidade de frutos, especialmente de plantas nativas".

PARA SABER MAIS

Veja aqui no vídeo produzido no laboratório da coleção entomológica da Embrapa Cerrados como é realizado o processo de dissecação de uma mariposa (procedimento usado para identificação).

FONTE

Embrapa Cerrados
Juliana Caldas

Fauna e Flora do Cerrado de Minas Gerais

A riqueza endêmica e a variedade de espécies - para isso contribuindo a ocorrência dos três biomas nesse território e a fartura de rios, lagos, lagoas que determinam a vasta diversidade de peixes
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Ainda faltam registros centíficos sobre a fauna do Estado de Minas Gerais, sendo que para cada 5 mil km de território mineiro existe apenas uma localidade amostrada, de acordo com a Fundação Biodiversitas. Alguns números, entretanto, apontam para a riqueza endêmica e a variedade de espécies - para isso contribuindo a ocorrência dos três biomas nesse território e a fartura de rios, lagos, lagoas que determinam a vasta diversidade de peixes: das 3 mil espécies brasileiras, 380 ocorrem em Minas (12,5%). Sabe-se, por exemplo, que das 1.678 espécies de aves brasileiras, 46,5% (780 delas) foram verificadas no Estado, várias endêmicas, como o joão-cipó (Asthenes luizae) que habita os campos rupestres da Serra do Espinhaço. Há em Minas Gerais 190 espécies de mamíferos não-aquáticos - o que representa 40% dos catalogados no Brasil; 180 espécies de répteis entre serpentes, lagartos e jacarés, com destaque para as 120 de serpentes - quase metade das catalogadas no país; 200 espécies de anfíbios - 1/3 das que ocorrem no país - sendo vários os gêneros endêmicos de anuros (sapos, rãs e pererecas) da Floresta Atlântica e das serras do Cipó e da Canastra. Os maiores registros da fauna de MInas Gerais dizem respeito ao Bioma de Floresta Atlântica sendo pouco conhecidas as indicações de fauna sobre o Cerrado. Porém, devido ao conhecimento de que, exatamente na porção correspondente a esse ecossistema, há a ocorrência dos corredores mésicos (áreas de temperatura média), aponta-se com precisão para as condições férteis de vida animal no Cerrado.

Diversidade e Endemismo
Espécies Total de Espécies Espécies Endêmicas
Plantas 10.000 4.400
Mamíferos 161 19
Aves 837 29
Répteis 120 24
Anfíbios 150 45
Ainda que existam poucas indicações sobre o tamanho das populações e a dinâmica dos animais que ali vivem, não há dúvida de que a riqueza de espécies e endemismos sejam as características mais importantes dessa fauna. Há algumas ocorrências que podem ser apontadas como típicas nesse bioma. É o caso da jibóia (Boa constrictor), da cascavel (Crotalus durissus), de várias espécies de jararaca, do lagarto teiú (Tupinambis merianae), da ema (Rhea americana), da seriema (Caraiama cristata), do joão-de-barro (Furnarius rufus), do anu-preto (Crotophaga ani), da curicaca, do urubu-caçador, do urubu-rei, de araras, tucanos, papagaios e gaviões, do tatu-peba, do tatu-galinha, do tatu-canastra (Priodontes maximus), do tatu-de-rabo-mole, do tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e do tamanduá-mirim, do veado-campeiro (Ozotocerus bezoarticus), do cateto, da anta, do cachorro-do-mato, do cachoro-vinagre (Speothos venaticus), do lobo-guará (Crysocyon brachyurus), da jaguatirica, do gato-mourisco, e muito raramente da onça-parda (Puma concolor) e da onça-pintada (Panthera onca).
Recentemente, uma surpreendente quantidade de informação foi reunida sobre os invertebrados do Cerrado, num trabalho realizado pela Base de Dados Tropical. Descobiu-se que a representatividade da fauna regional em relação à brasileira varia entre os grupos, indo de menos de 20% (abelhas e formigas) e mais de 50% para os lepidópteros (mariposas e borboletas). O número de espécies estimado para o Cerrado é de 14.425 e representa 47% da fauna estimada para o Brasil.

Espécies Ameaçadas de Extinção
Taxon Espécies Ameaçadas Espécies Presumivelmente Ameaçadas
EX CR EP VU Total
Mamíferos 05 13 12 10 40 25
Aves 04 12 27 40 83 64
Répteis - 03 02 05 10 15
Anfíbios - - 01 10 11 17
Peixes - 01 - 02 03 32
Invertebrados 03 04 13 11 31 12
Total 12 33 55 78 178 165
EX - Provavelmente extinta; CR - Criticamente Ameaçada; EP - Em Perigo; VU - Vulnerável.
Fonte: Fundação Biodiversitas, 1998. Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna de Minas Gerais
Destacando-se como um belo cenário na região central o nosso país, entre a Floresta Atlântica e a Floresta Amazônica, o Cerrado ocupa mais de 22% das terras brasileiras. É um conjunto de vários tipos de vegetação, formando uma bonita paisagem na qual pode-se encontrar, em meio às formações características do Cerrado, algumas formações pertencentes a outros biomas. Este mosaico de fisionomias é extremamente importante do ponto de vista da biodiversidade, pos reúne uma grande variedade de plantas e animais.
Devido ao seu grande valor biológico, o Cerrado tem sido alvo de enorme interesse por parte de entidades e pesquisadores preocupados com o futuro deste patrimônio. Em 1998, várias entidades ligadas à preservação ambiental realizaram o workshop "Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Cerrado e Pantanal", onde foram identificadas as regiões mais carentes de conhecimentos e proteção e discutidas estratégias para conservação e uso dos recursos bióticos. Este workshop representou um passo importante, pois, além de ter alertado para a necessidade de se reverter o processo de degradação do Cerrado, continua a subsidiar ações para a manutenção da sua bioiversidade.
Flora do Cerrado
Ocupando mais de 1,8 milhões de ha, o Cerrado é o segundo maior bioma do continente sul-americano. Sua cobertura vegetal não é uniforme, mas sim, composta por vários tipos de fisionomias formando um complexo vegetacional. Por toda a sua extenção, há elementos de outros biomas, e, por isso, costuma-se falar em "Domínio do Cerrado" quando se quer designar o conjunto de todos os tipos de vegetação que ocorrem no Cerrado, e Bioma do Cerrado para se referir apenas às suas fisionomias típicas. São reconhecidos cinco tipos principais de vegetação do Bioma do Cerrado: Cerradão, Cerrado sensu strictu, Campo Cerrado, Campo Sujo e Campo Limpo, onde variam a composição dos estratos arbóreos, arbustivos e herbáceos. As veredas, as Matas Ciliares e as Matas Mesófilas também ocorrem no Cerrado, entretanto, estas fisionomias vegetais não são exclusivas deste domínio.
Dos tipos de vegetação características do Bioma do Cerrado, o Cerrado é o que apresenta maior densidade de árvores. Além disso, as árvores são mais altas, menos tortuosas e suas cascas são mais finas que as do Cerrado típico. Há muitos arbustos e o estrato herbáceo é discreto. Plantas como a lixeira (Curatella americana) e o caqui-do-mato (Diospyros brasiliensis) produzem frutos muito apreciados pela fauna que reside ou visita o Cerradão. Nesta formação também são encontradas plantas importantes para o homem, como a copaíba (Copaifera langsdorffii), árvore da qual se extrai óleo de copaíba ou bálsamo, nomes dados ao produto natural retirado de seu tronco através de perfurações profundas. Essa substância possui muitas propriedades terapêuticas, sendo usada principalmente como cicatrizes e antiinflamatório.
O Cerrado sensu strictu, ou Cerrado típico, é formado por árvores baixas e tortas, juntamente com arbustos diversos, distribuídos de forma esparsa em um solo coberto de gramíneas. As cascas das árvores são muito grossas, o que ajuda a protegê-las dos efeitos do fogo, um evento comum nos cerrados de todo o Brasil. Neste ambiente pode ser encontrada a catuaba (Anemopaegma arvense), uma das plantas medicinais mais comuns do Brasil. De propriedades afrodisíacas e estimulantes, essa planta de sabor amargo já era conhecida pelos índios que habitavam o Cerrado mesmo antes de sua colonização. Também presente nesta fisionomia, o jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa) oferece muitos benefícios ao homem. Seus frutos são comestíveis e altamente nutritivos, a sua casca pode ser utilizada como remédio, e a madeira dura e resistente, é empregada na construção civil e naval.
O pequi (Caryocar brasiliense) é outra planta importante. Seus frutos são saborosos e ricos em vitamina A, sendo muito utilizados na culinária regional. Comum também é o murici (Byrsonima verbascifolia), que pode ser aproveitado de várias maneiras. Seus frutos são comestíveis, a madeira é utilizada na construção civil e na marcenaria e sua casca possui propriedades medicinais. As cascas do barbatimão (Stryphnodendron adstringens) também são muito conhecidas por suas propriedades medicinais, sendo utilizadas para vários fins variados. Além disso, o tanino extraído delas constitui matéria-prima de curtumes.
Uma planta de admirável beleza é o ipê-amarelo (Tabebuia aurea), que fica coberto de flores na estação seca. Essa árvore é bastante ornamental e vem sendo empregada com sucesso na arborização de ruas e praças. O Campo Cerrado apresenta uma composição semelhante ao Cerrado sensu strictu, porém a vegetação é mais baixa e as árvores mais espaçadas, com predomínio de arbustos de várias espécies. A rosa-do-cerrado (Kielmeyra rubriflora) é uma das plantas mais atraentes, embelezando os campos cerrados com suas flores róseas e delicadas. A fruta-de-boi (Diospyros hispida) possui frutos comestíveis de sabor adocicado, enquanto a fruta-de-ema (Couepia grandiflora) é muito procura pela fauna na época de sua frutificação.
O Campo Sujo, encontrado em áreas de solo raso, apresenta-se dominado por gramíneas, embora outras espécies de porte herbáceo também se mostrem presentes. Os poucos arbustos e árvores ocorrem normalmente agrupados em pequenas ilhas de vegetação, onde a composição florística é similar à do Cerrado típico.
No Campo Limpo, a vegetação é composta quase que exclusivamente de gramíneas e algumas cipéraceas. Há também várias orquídeas que embelezam o cenário com suas flores delicadas. Pode-se encontrar um ou outro arbusto, mas estes são raros e muito espaçados entre si.
As Matas Ciliares ocorrem ao longo dos rios de toda a região dos Cerrados. Além de proteger os mananciais, servem de refúgio para a fauna típica da mata, que encontra aí um ambiente mais úmido e de temperatura mais branda. Essas matas também desempenham papéis estratégicos como corredores ecológicos.
Nas veredas ou Buritizais, áreas úmidas de nascentes, o buriti (Mauritia flexuosa) é a planta dominante. Além de ser uma planta de extraordinária beleza, o buriti é uma palmeira valiosa, pois desempenha um papel ecológico fundamental no Cerrado. Seus frutos são a base da alimentação de muitos animais, principalmente aves e roedores. Diferentes partes dessa planta são usadas pelo homem para o preparo de alimentos, artesanatos e em construções rurais. A indústria cosmética também já descobriu o valor do buriti e vem comercializando vários produtos feitos à base do óleo de seus frutos.
As Matas Mesófilas são formações florestais situadas em solos de boa qualidade. São caracterizadas pela presença de uma grande quantidade de madeira-de-lei, e por isso, são constantemente degradadas pela extração madeireira. Entre as espécies vegetais presentes, por exemplo, a copaíba (Copaifera langsdorffii), o jatobá-da-mata (Hymenaea cobaril) a aroeira (Myracroduon urundeuva) e o angico (Anadenanthera colubrina). Das espécies de plantas do Cerrado, pouquíssimas também são encontradas em outras matas. É o caso da maria-mole (Guapira opposita), do pau-de-tucano (Vochysia tucanorum) e do pau-pombo (Tapirira guianensis). Este alto grau de endemismo é um dos motivos pelos quais o Cerrado deveria receber mais atenção no que diz respeito à sua conservação. Esperando que suas propriedades terapêuticas ou nutricionais sejam descobertas, inúmeras plantas exclusivas do Cerrado poderão um dia, ajudar a melhorar a qualidade de vida da população humana.
Fonte parcial: Guia Ilustrado de Animais do Cerrado de Minas Gerais. 2.° edição. CEMIG. Editare Editora, 2003.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010



Medicina popular

Organizada pela Articulação Pacari, a publicação Farmacopéia Popular do Cerrado vai registrar, pela primeira vez, a “sabedoria medicinal” das comunidades do bioma. Quem assina o livro são 257 raizeiros e benzedeiras, cujos conhecimentos tradicionais estão ameaçados diante do avanço da fronteira agrícola.


Foto: Articulação Pacari

Batata de purga é uma das plantas mais utilizadas pelos raizeiros do Cerrado.

29/01/2009 - O raizeiro Dalci José de Carvalho, de 55 anos, comanda atento os cinco voluntários que trabalham na farmacinha da comunidade de Olhos D’água, na zona rural do município de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha (MG). Os conhecimentos sobre as 70 plantas medicinais com que trabalha servem para amenizar a vida das 27 famílias que habitam a comunidade.
O Pacari, avisa, é um ótimo cicatrizante, ao passo que o Algodãozinho do Campo impede a infecção de prosperar. Já o Capim-verde, tão bom para combater as doenças respiratórias, não existe mais. Sumida da comunidade desde a expansão da fronteira agrícola e dos eucaliptais sobre áreas remanescentes do Cerrado, a planta engrossa a lista das variedades medicinais ameaçadas na região. “Faço como meu avô fazia, como meu pai fazia depois dele. Mas se não tiver a planta, como passar o conhecimento para frente?”, pergunta o raizeiro se referindo à própria filha, uma das voluntárias da farmacinha.

De olho nesta necessidade, seu Dalci será um dos 257 raizeiros e benzedeiras que assinarão conjuntamente o livro “Farmacopéia Popular do Cerrado”. Em fase de revisão, o livro terá mais de 300 páginas e abordará as propriedades curativas que as populações tradicionais de Goiás, Minas Gerais, Tocantins e Maranhão detectam em nove plantas da região, como o barbatimão, o algodãozinho e a batata de purga. A iniciativa é da Articulação Pacari, rede formada por grupos comunitários que trabalham com plantas medicinais. “Estamos trabalhando no livro com nove plantas, mas há comunidades quilombolas que chegam a conhecer e utilizar até 200 plantas”, avisa a coordenadora da Articulação Pacari, Jaqueline Evangelista.

A seleção, avisa, teve por objetivo destacar as plantas que estão sendo mais ameaçadas pelo avanço das fronteiras agrícolas, bem como aquelas usadas em maior número de comunidades e utilizadas para fazer diferentes tipos de remédios. Para isso, foi feito um levantamento de mais de cem plantas por região, que foram depuradas com base em uma metodologia estabelecida pelos próprios raizeiros para que se chegasse às plantas que constam no livro. Entre os critérios esteve o cruzamento dos conhecimentos de diferentes raizeiros e benzedeiras. “Se diferentes comunidades que não se conhecem e dizem que a mesma planta apresenta os mesmos princípios, então precisamos olhá-las com atenção”, explica Jaqueline.

Segundo ela, a obra não dará receitas, apenas indicações do uso fitoterápico das plantas. Também dirá onde elas podem ser encontradas e apresentará dados botânicos específicos. Como exemplo, estão as pomadas feitas do barbatimão, usadas como cicatrizantes, e os chás de pé-de-perdiz, que têm efeito antibiótico. Os moradores, explica Jaqueline, preparam as plantas medicinais que constam na publicação de pelo menos dez formas diferentes: fazem xaropes, pomadas, cremes, sabonetes, balas, pílulas, chás, óleos, tinturas e garrafadas (mistura com bebida alcoólica).

Foto: Articulação Pacari

Populações tradicionais cobram proteção dos remanescentes de Cerrado para assegurar a continuidade de seus conhecimentos.
Além de registrar estes conhecimentos, o livro também visa orientar benzedeiras, raizeiros e as farmácias populares para que usem os produtos com eficiência e segurança. O governo federal acompanha a elaboração do livro por meio de um termo de cooperação entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Ministério do Meio Ambiente.

Política Nacional

Não se sabe ao certo o alcance da medicina popular no Brasil, mas um panorama feito pela Articulação Pacari com apenas 31 grupos comunitários de Goiás e Minas identificou 7.500 pessoas diretamente beneficiadas pelas plantas medicinais. Apesar disso, os derivados dessas plantas ainda não são reconhecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), já que não existe regulamentação federal específica para fitoterápicos e para remédios populares. “Aí é ruim, parece até que a gente é bandido”, reclama seu Dalci.

Em 2006, duas importantes Políticas Nacionais na área de Plantas Medicinais e Fitoterápicos foram lançadas. A primeira foi a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, aprovada por meio da Portaria 971, do Ministério da Saúde, e a segunda a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, aprovada por meio de Decreto Presidencial em junho de 2006, com o objetivo de garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, “promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional”.

A Articulação Pacari defende a auto-regulação da medicina popular pelo engajamento dos próprios raizeiros e benzedeiras. Para prosperar, avisa Jaqueline, a política deve se assentar num tripé. Em primeiro lugar, a planta tem de ter qualidade e sua disponibilidade assegurada, o que implica intensificar as ações de conservação do Cerrado e garantir o livre acesso dos raizeiros às áreas de reserva legal situadas no interior de grandes fazendas. Afinal, sem a planta não há como garantir a sobrevivência da medicina popular.

O segundo quesito diz respeito à consolidação de boas práticas de manipulação dentro das farmacinhas, desde princípios básicos de higiene até a adoção de sistemas de pesos e medidas e a instalação de pisos laváveis e fornos apropriados. “Uma política nacional certamente ajudaria nessa estruturação”, defende. Por fim, é preciso haver segurança de que determinada planta efetivamente serve para aquela doença, o que implica a ação dos órgãos competentes em conjunto com o resgate destas tradições populares, transmitidas oralmente há décadas. “O que não pode é o Brasil reconhecer a medicina tradicional chinesa, mas não a medicina popular brasileira”, diz Jaqueline.

O importante, avisa, é não perder o bonde. Segundo informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 40% dos medicamentos atualmente disponíveis foram desenvolvidos direta ou indiretamente a partir de fontes naturais. Estatísticas apontam também o crescimento do consumo de plantas medicinais ou medicamentos à base de plantas em todas as classes sociais no Brasil e no mundo. Esse mercado cresce em torno de 15% ao ano.


Por Vinícius Carvalho, jornalista do Portal da RTS

domingo, 5 de setembro de 2010

FONTE: Proprio autor, estrada da cidade de Lagoa da prata.
A ação antrópica qual será a solução? Morte de animais nas estradas estão aumentando a cada dia, são animais que estão ameaçados de estinção, o tamanduá bandeira é esta na lista.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010


OPINIÃO: Alterações no Código Florestal: Setor ruralista contra si mesmo

Por Franciso Mourão, Biólogo registrado do CRBio-04

A reformulação do Código Florestal Brasileiro proposta pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados vem mostrar, mais uma vez, o caráter conservador e atrasado do pensamento de parte do setor ruralista do país. Com a alegação de que a norma limita a expansão das atividades agropecuárias no Brasil, parte do setor reclama pela redução das áreas de reserva legal, de preservação permanente e anistia aos infratores da lei atual.

Por traz de toda essa polêmica, dois aspectos fundamentais merecem destaque: o primeiro refere-se à crença de que o incremento da produção agropecuária no país deve ocorrer a partir da expansão da fronteira agrícola, com ocupação de novas áreas. O segundo, a falta de percepção da importância da cobertura vegetal nativa na manutenção de processos ecológicos fundamentais a todas as atividades humanas e à proteção da biodiversidade.

Estes dois aspectos não se referem a um pensamento recente, mas sim uma marca histórica que o setor carrega, desde os primeiros ciclos de desenvolvimento da agricultura e da pecuária no país. Foi assim nos ciclos de cultivo da cana-de-açúcar e do café, nos primeiros quatro séculos da ocupação européia no Brasil, culturas que avançaram pelas regiões Nordeste, Sudeste e Sul, deixando para traz, um rastro de terras degradadas. Era muito maisfácil ocupar terras virgens e férteis, cobertas por florestas,do que adotar os cuidados necessários paraa conservação do solo, através da prática de umaagricultura sustentável no longo prazo.

No cerne da discussão sobre a reforma da legislação florestal no país está uma polêmica antiga, que há muito gera debates acalorados. Há mais de dois séculos, pensadores brasileiros, ou estrangeiros que por aqui passaram, mostram isso. No final do século XVIII, o pesquisador mineiro José Vieira Couto escreveu: “Parece que já é tempo de se atentar nestas preciosas matas, nestas amenas selvas que o cultivador do Brasil, com o machado em uma mão, e com um tição em outra, ameaça-as de um total incêndio e desolação. Uma agricultura bárbara e, ao mesmo tempo, muito mais dispendiosa tem sido a causa deste geral abrasamento. O agricultor olha ao redor de si para duas ou mais léguas de matas como para um nada e, ainda não as tem bem reduzida a cinzas, já estende ao longo a vista para levar a destruição a outras partes; não conserva apego nem amor ao território que cultiva, pois conhece muito bem que ele talvez não chegará a seus filhos (....)”.

Também o botânico francês, Auguste de Saint - Hilaire, em sua estada por Minas Gerais, na primeira metade do século XIX, manifestava sua preocupação com o modelo de ocupação do solo no Brasil: “Em vez de recompensar a homens que destroem florestas, que se conceda o mesmo prêmio aos que lavrarem as terras cobertas de capim gordura, e ver-se-á, ouso dizê-lo, uma feliz revolução dentro em pouco, na província de Minas Gerais”.

Idéias como as dos dois pensadores continuam ainda atualíssimas. Apesar de parte expressiva dos grandes biomas do país ter sido destruída pela ação dos brasileiros, influentes segmentos dos ruralistas continuam, como no passado, defendendo o avanço da agropecuária sobre os remanescentes de vegetação nativa, embora amplas pesquisas demonstrem o enorme estoque de áreas já desmatadas, degradadas e subutilizadas. Segundo Eduardo Assad, da Embrapa, somente no Cerrado seriam em torno de 800 mil quilômetros quadrados, suficiente para duplicar toda a produção gerada no bioma.

Reforça a tese da impropriedade dos defensores da expansão horizontal da fronteira agropecuária, a situação atual da atividade rural no estado de São Paulo, sem dúvida, uma das mais desenvolvidas no país. Dados publicados no ano passado indicam que o território paulista ganhou, nos últimos 12 anos, uma área de aproximadamente 500 mil hectares em florestas nativas.

Embora tenha destinado toda essa área para a proteção florestal, o Estado conseguiu aumentar, significativamente a colheita de seus principais produtos. A produção de cana, por exemplo, mais do que dobrou neste período, a de café, cresceu em torno de 60%, a milho 36%, a de soja 13%. Ainda no mesmo período a área plantada em eucalipto cresceu 45% e o resultado da pecuária leiteira e de corte também apresentou incremento, apesar de modesto. Isso sem falar nas grandes áreas destinadas à expansão urbana. Os dados revelam que o estado está ampliando sua atividade agropecuária basicamente através do aumento dos níveis de produtividade por unidade de área.

O mais impressionante de toda essa polêmica é que os segmentos dos ruralistas que defendem as mudanças na lei desconhecem os resultados de pesquisas de várias instituições, em especial, da própria Embrapa, que alertam para os riscos do desmatamento para a sobrevivência da própria atividade rural. Essas pesquisas indicam as graves conseqüências que poderão advir da supressão de extensas áreas de vegetação nativa sobre os processos climáticos e sobre a disponibilidade de água nas regiões agrícolas.

Já há evidências de modificações no regime de chuvas nessas áreas e impactos significativos na vazão dos rios e na qualidade de suas águas. A elevação da temperatura, agravada pela substituição de grandes extensões de vegetação nativa por sistemas agropecuários, pode levar a inviabilidade do cultivo de várias espécies vegetais em extensas regiões do país.

É claro que alguma coisa deve ser modernizada no Código Florestal vigente, até mesmo para contemplar a grande heterogeneidade do espaço territorial brasileiro. Mas as mudanças ora propostas pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados são um atentado ao bom senso e poderão resultar em prejuízos irreversíveis à biodiversidade e a processos ecológicos fundamentais à nossa sobrevivência, inclusive à nossa própria agricultura.

Fonte: AMDA

Abertas inscrições para O grito e a resistência no Cerrado

Escolas, universidades, estudantes e pessoas interessadas já podem se inscrever para participar do encontro “O grito e a resistência no Cerrado: saberes e fazeres dos povos deste chão”, a ser realizado no dia 10 de setembro, a partir das 8 horas. O evento será na Cidade de Goiás (GO).

O evento tem o objetivo de promover a valorização pessoal e coletiva dos povos tradicionais, seus saberes e fazeres, e intercâmbio as várias comunidades; e alcançar a melhoria qualidade de vida da população da região trabalhada, urbana e rural, ao garantir o acesso à informação sobre a melhoria alimentar e às práticas populares de saúde, estimulando sua adoção.

Ainda, contribuir para a melhoria ambiental global, ao buscar a proteção do Cerrado, sua biodiversidade e suas águas, por meio da proteção da cultura das populações tradicionais e suas relações saudáveis com o ambiente em que vivem, evidenciando-se e estimulando-se as ações de manejo sustentável em contraponto ao desmatamento.

Uma das colaboradoras do evento é a renomada bióloga Patricia Mousinho. Segundo a especialista, o Bioma Cerrado, que tem papel-chave na questão dos recursos hídricos por abrigar as nascentes dos rios que formam as principais bacias hidrográficas brasileiras, está seriamente ameaçado. “O Cerrado teve quase metade de sua área desmatada e permanece sob taxa alarmante de degradação”.

“O Cerrado reúne um terço da biodiversidade do nosso país e 5% da flora e da fauna de todo o Planeta e infelizmente vive em constante ameaça ao seu patrimônio cultural. As comunidades que detém o conhecimento tradicional desta biodiversidade, como seus saberes e suas relações com o ambiente em que vivem, estão de modo semelhante em processo de destruição. Outro problema é a grave e inquestionável crise no sistema público de saúde nacional, destacadamente em nossa região”, complementou Mousinho.

Segundo a bióloga, o Cerrado desaparece, e com ele perdemos a opção de uso sustentável de recursos como as numerosas espécies de potencial alimentar e farmacológico nele existentes. “E é neste contexto de degradação que se desenvolve o presente, buscando-se apontar caminhos para a reversão deste quadro”.

Programação

A partir das 9 horas haverá a Mística de Abertura, que terá como foco a degradação do Cerrado e a importância das iniciativas de resistência e entrega de sementes de árvores nativas para os participantes.

Segundo Patricia Mousinho, haverá várias atividades permanentes como exposição fotográfica de plantas e frutos e exibição de vídeo sobre o trabalho desenvolvido pela Casa da Agricultura junto às comunidades e Farmacinhas.

No espaço de Direitos Humanos, benzedeiras estarão à disposição do público. Na Praça da Catedral, sob uma grande tenda, as pessoas poderão desfrutar de diversos espaços de informação, diálogo e demonstração.

Mais Informações:
Patricia de Oliveira Mousinho – patricia.mousinho@gmail.com
Maria Luiza da Silva Oliveira – marialgoias@yahoo.com.br

Fonte: Portal da Hora