quarta-feira, 15 de dezembro de 2010



Medicina popular

Organizada pela Articulação Pacari, a publicação Farmacopéia Popular do Cerrado vai registrar, pela primeira vez, a “sabedoria medicinal” das comunidades do bioma. Quem assina o livro são 257 raizeiros e benzedeiras, cujos conhecimentos tradicionais estão ameaçados diante do avanço da fronteira agrícola.


Foto: Articulação Pacari

Batata de purga é uma das plantas mais utilizadas pelos raizeiros do Cerrado.

29/01/2009 - O raizeiro Dalci José de Carvalho, de 55 anos, comanda atento os cinco voluntários que trabalham na farmacinha da comunidade de Olhos D’água, na zona rural do município de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha (MG). Os conhecimentos sobre as 70 plantas medicinais com que trabalha servem para amenizar a vida das 27 famílias que habitam a comunidade.
O Pacari, avisa, é um ótimo cicatrizante, ao passo que o Algodãozinho do Campo impede a infecção de prosperar. Já o Capim-verde, tão bom para combater as doenças respiratórias, não existe mais. Sumida da comunidade desde a expansão da fronteira agrícola e dos eucaliptais sobre áreas remanescentes do Cerrado, a planta engrossa a lista das variedades medicinais ameaçadas na região. “Faço como meu avô fazia, como meu pai fazia depois dele. Mas se não tiver a planta, como passar o conhecimento para frente?”, pergunta o raizeiro se referindo à própria filha, uma das voluntárias da farmacinha.

De olho nesta necessidade, seu Dalci será um dos 257 raizeiros e benzedeiras que assinarão conjuntamente o livro “Farmacopéia Popular do Cerrado”. Em fase de revisão, o livro terá mais de 300 páginas e abordará as propriedades curativas que as populações tradicionais de Goiás, Minas Gerais, Tocantins e Maranhão detectam em nove plantas da região, como o barbatimão, o algodãozinho e a batata de purga. A iniciativa é da Articulação Pacari, rede formada por grupos comunitários que trabalham com plantas medicinais. “Estamos trabalhando no livro com nove plantas, mas há comunidades quilombolas que chegam a conhecer e utilizar até 200 plantas”, avisa a coordenadora da Articulação Pacari, Jaqueline Evangelista.

A seleção, avisa, teve por objetivo destacar as plantas que estão sendo mais ameaçadas pelo avanço das fronteiras agrícolas, bem como aquelas usadas em maior número de comunidades e utilizadas para fazer diferentes tipos de remédios. Para isso, foi feito um levantamento de mais de cem plantas por região, que foram depuradas com base em uma metodologia estabelecida pelos próprios raizeiros para que se chegasse às plantas que constam no livro. Entre os critérios esteve o cruzamento dos conhecimentos de diferentes raizeiros e benzedeiras. “Se diferentes comunidades que não se conhecem e dizem que a mesma planta apresenta os mesmos princípios, então precisamos olhá-las com atenção”, explica Jaqueline.

Segundo ela, a obra não dará receitas, apenas indicações do uso fitoterápico das plantas. Também dirá onde elas podem ser encontradas e apresentará dados botânicos específicos. Como exemplo, estão as pomadas feitas do barbatimão, usadas como cicatrizantes, e os chás de pé-de-perdiz, que têm efeito antibiótico. Os moradores, explica Jaqueline, preparam as plantas medicinais que constam na publicação de pelo menos dez formas diferentes: fazem xaropes, pomadas, cremes, sabonetes, balas, pílulas, chás, óleos, tinturas e garrafadas (mistura com bebida alcoólica).

Foto: Articulação Pacari

Populações tradicionais cobram proteção dos remanescentes de Cerrado para assegurar a continuidade de seus conhecimentos.
Além de registrar estes conhecimentos, o livro também visa orientar benzedeiras, raizeiros e as farmácias populares para que usem os produtos com eficiência e segurança. O governo federal acompanha a elaboração do livro por meio de um termo de cooperação entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Ministério do Meio Ambiente.

Política Nacional

Não se sabe ao certo o alcance da medicina popular no Brasil, mas um panorama feito pela Articulação Pacari com apenas 31 grupos comunitários de Goiás e Minas identificou 7.500 pessoas diretamente beneficiadas pelas plantas medicinais. Apesar disso, os derivados dessas plantas ainda não são reconhecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), já que não existe regulamentação federal específica para fitoterápicos e para remédios populares. “Aí é ruim, parece até que a gente é bandido”, reclama seu Dalci.

Em 2006, duas importantes Políticas Nacionais na área de Plantas Medicinais e Fitoterápicos foram lançadas. A primeira foi a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, aprovada por meio da Portaria 971, do Ministério da Saúde, e a segunda a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, aprovada por meio de Decreto Presidencial em junho de 2006, com o objetivo de garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, “promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional”.

A Articulação Pacari defende a auto-regulação da medicina popular pelo engajamento dos próprios raizeiros e benzedeiras. Para prosperar, avisa Jaqueline, a política deve se assentar num tripé. Em primeiro lugar, a planta tem de ter qualidade e sua disponibilidade assegurada, o que implica intensificar as ações de conservação do Cerrado e garantir o livre acesso dos raizeiros às áreas de reserva legal situadas no interior de grandes fazendas. Afinal, sem a planta não há como garantir a sobrevivência da medicina popular.

O segundo quesito diz respeito à consolidação de boas práticas de manipulação dentro das farmacinhas, desde princípios básicos de higiene até a adoção de sistemas de pesos e medidas e a instalação de pisos laváveis e fornos apropriados. “Uma política nacional certamente ajudaria nessa estruturação”, defende. Por fim, é preciso haver segurança de que determinada planta efetivamente serve para aquela doença, o que implica a ação dos órgãos competentes em conjunto com o resgate destas tradições populares, transmitidas oralmente há décadas. “O que não pode é o Brasil reconhecer a medicina tradicional chinesa, mas não a medicina popular brasileira”, diz Jaqueline.

O importante, avisa, é não perder o bonde. Segundo informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 40% dos medicamentos atualmente disponíveis foram desenvolvidos direta ou indiretamente a partir de fontes naturais. Estatísticas apontam também o crescimento do consumo de plantas medicinais ou medicamentos à base de plantas em todas as classes sociais no Brasil e no mundo. Esse mercado cresce em torno de 15% ao ano.


Por Vinícius Carvalho, jornalista do Portal da RTS

domingo, 5 de setembro de 2010

FONTE: Proprio autor, estrada da cidade de Lagoa da prata.
A ação antrópica qual será a solução? Morte de animais nas estradas estão aumentando a cada dia, são animais que estão ameaçados de estinção, o tamanduá bandeira é esta na lista.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010


OPINIÃO: Alterações no Código Florestal: Setor ruralista contra si mesmo

Por Franciso Mourão, Biólogo registrado do CRBio-04

A reformulação do Código Florestal Brasileiro proposta pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados vem mostrar, mais uma vez, o caráter conservador e atrasado do pensamento de parte do setor ruralista do país. Com a alegação de que a norma limita a expansão das atividades agropecuárias no Brasil, parte do setor reclama pela redução das áreas de reserva legal, de preservação permanente e anistia aos infratores da lei atual.

Por traz de toda essa polêmica, dois aspectos fundamentais merecem destaque: o primeiro refere-se à crença de que o incremento da produção agropecuária no país deve ocorrer a partir da expansão da fronteira agrícola, com ocupação de novas áreas. O segundo, a falta de percepção da importância da cobertura vegetal nativa na manutenção de processos ecológicos fundamentais a todas as atividades humanas e à proteção da biodiversidade.

Estes dois aspectos não se referem a um pensamento recente, mas sim uma marca histórica que o setor carrega, desde os primeiros ciclos de desenvolvimento da agricultura e da pecuária no país. Foi assim nos ciclos de cultivo da cana-de-açúcar e do café, nos primeiros quatro séculos da ocupação européia no Brasil, culturas que avançaram pelas regiões Nordeste, Sudeste e Sul, deixando para traz, um rastro de terras degradadas. Era muito maisfácil ocupar terras virgens e férteis, cobertas por florestas,do que adotar os cuidados necessários paraa conservação do solo, através da prática de umaagricultura sustentável no longo prazo.

No cerne da discussão sobre a reforma da legislação florestal no país está uma polêmica antiga, que há muito gera debates acalorados. Há mais de dois séculos, pensadores brasileiros, ou estrangeiros que por aqui passaram, mostram isso. No final do século XVIII, o pesquisador mineiro José Vieira Couto escreveu: “Parece que já é tempo de se atentar nestas preciosas matas, nestas amenas selvas que o cultivador do Brasil, com o machado em uma mão, e com um tição em outra, ameaça-as de um total incêndio e desolação. Uma agricultura bárbara e, ao mesmo tempo, muito mais dispendiosa tem sido a causa deste geral abrasamento. O agricultor olha ao redor de si para duas ou mais léguas de matas como para um nada e, ainda não as tem bem reduzida a cinzas, já estende ao longo a vista para levar a destruição a outras partes; não conserva apego nem amor ao território que cultiva, pois conhece muito bem que ele talvez não chegará a seus filhos (....)”.

Também o botânico francês, Auguste de Saint - Hilaire, em sua estada por Minas Gerais, na primeira metade do século XIX, manifestava sua preocupação com o modelo de ocupação do solo no Brasil: “Em vez de recompensar a homens que destroem florestas, que se conceda o mesmo prêmio aos que lavrarem as terras cobertas de capim gordura, e ver-se-á, ouso dizê-lo, uma feliz revolução dentro em pouco, na província de Minas Gerais”.

Idéias como as dos dois pensadores continuam ainda atualíssimas. Apesar de parte expressiva dos grandes biomas do país ter sido destruída pela ação dos brasileiros, influentes segmentos dos ruralistas continuam, como no passado, defendendo o avanço da agropecuária sobre os remanescentes de vegetação nativa, embora amplas pesquisas demonstrem o enorme estoque de áreas já desmatadas, degradadas e subutilizadas. Segundo Eduardo Assad, da Embrapa, somente no Cerrado seriam em torno de 800 mil quilômetros quadrados, suficiente para duplicar toda a produção gerada no bioma.

Reforça a tese da impropriedade dos defensores da expansão horizontal da fronteira agropecuária, a situação atual da atividade rural no estado de São Paulo, sem dúvida, uma das mais desenvolvidas no país. Dados publicados no ano passado indicam que o território paulista ganhou, nos últimos 12 anos, uma área de aproximadamente 500 mil hectares em florestas nativas.

Embora tenha destinado toda essa área para a proteção florestal, o Estado conseguiu aumentar, significativamente a colheita de seus principais produtos. A produção de cana, por exemplo, mais do que dobrou neste período, a de café, cresceu em torno de 60%, a milho 36%, a de soja 13%. Ainda no mesmo período a área plantada em eucalipto cresceu 45% e o resultado da pecuária leiteira e de corte também apresentou incremento, apesar de modesto. Isso sem falar nas grandes áreas destinadas à expansão urbana. Os dados revelam que o estado está ampliando sua atividade agropecuária basicamente através do aumento dos níveis de produtividade por unidade de área.

O mais impressionante de toda essa polêmica é que os segmentos dos ruralistas que defendem as mudanças na lei desconhecem os resultados de pesquisas de várias instituições, em especial, da própria Embrapa, que alertam para os riscos do desmatamento para a sobrevivência da própria atividade rural. Essas pesquisas indicam as graves conseqüências que poderão advir da supressão de extensas áreas de vegetação nativa sobre os processos climáticos e sobre a disponibilidade de água nas regiões agrícolas.

Já há evidências de modificações no regime de chuvas nessas áreas e impactos significativos na vazão dos rios e na qualidade de suas águas. A elevação da temperatura, agravada pela substituição de grandes extensões de vegetação nativa por sistemas agropecuários, pode levar a inviabilidade do cultivo de várias espécies vegetais em extensas regiões do país.

É claro que alguma coisa deve ser modernizada no Código Florestal vigente, até mesmo para contemplar a grande heterogeneidade do espaço territorial brasileiro. Mas as mudanças ora propostas pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados são um atentado ao bom senso e poderão resultar em prejuízos irreversíveis à biodiversidade e a processos ecológicos fundamentais à nossa sobrevivência, inclusive à nossa própria agricultura.

Fonte: AMDA

Abertas inscrições para O grito e a resistência no Cerrado

Escolas, universidades, estudantes e pessoas interessadas já podem se inscrever para participar do encontro “O grito e a resistência no Cerrado: saberes e fazeres dos povos deste chão”, a ser realizado no dia 10 de setembro, a partir das 8 horas. O evento será na Cidade de Goiás (GO).

O evento tem o objetivo de promover a valorização pessoal e coletiva dos povos tradicionais, seus saberes e fazeres, e intercâmbio as várias comunidades; e alcançar a melhoria qualidade de vida da população da região trabalhada, urbana e rural, ao garantir o acesso à informação sobre a melhoria alimentar e às práticas populares de saúde, estimulando sua adoção.

Ainda, contribuir para a melhoria ambiental global, ao buscar a proteção do Cerrado, sua biodiversidade e suas águas, por meio da proteção da cultura das populações tradicionais e suas relações saudáveis com o ambiente em que vivem, evidenciando-se e estimulando-se as ações de manejo sustentável em contraponto ao desmatamento.

Uma das colaboradoras do evento é a renomada bióloga Patricia Mousinho. Segundo a especialista, o Bioma Cerrado, que tem papel-chave na questão dos recursos hídricos por abrigar as nascentes dos rios que formam as principais bacias hidrográficas brasileiras, está seriamente ameaçado. “O Cerrado teve quase metade de sua área desmatada e permanece sob taxa alarmante de degradação”.

“O Cerrado reúne um terço da biodiversidade do nosso país e 5% da flora e da fauna de todo o Planeta e infelizmente vive em constante ameaça ao seu patrimônio cultural. As comunidades que detém o conhecimento tradicional desta biodiversidade, como seus saberes e suas relações com o ambiente em que vivem, estão de modo semelhante em processo de destruição. Outro problema é a grave e inquestionável crise no sistema público de saúde nacional, destacadamente em nossa região”, complementou Mousinho.

Segundo a bióloga, o Cerrado desaparece, e com ele perdemos a opção de uso sustentável de recursos como as numerosas espécies de potencial alimentar e farmacológico nele existentes. “E é neste contexto de degradação que se desenvolve o presente, buscando-se apontar caminhos para a reversão deste quadro”.

Programação

A partir das 9 horas haverá a Mística de Abertura, que terá como foco a degradação do Cerrado e a importância das iniciativas de resistência e entrega de sementes de árvores nativas para os participantes.

Segundo Patricia Mousinho, haverá várias atividades permanentes como exposição fotográfica de plantas e frutos e exibição de vídeo sobre o trabalho desenvolvido pela Casa da Agricultura junto às comunidades e Farmacinhas.

No espaço de Direitos Humanos, benzedeiras estarão à disposição do público. Na Praça da Catedral, sob uma grande tenda, as pessoas poderão desfrutar de diversos espaços de informação, diálogo e demonstração.

Mais Informações:
Patricia de Oliveira Mousinho – patricia.mousinho@gmail.com
Maria Luiza da Silva Oliveira – marialgoias@yahoo.com.br

Fonte: Portal da Hora

Bióloga registrada do CRBio-04 assume cargo de ministra do Meio Ambiente
Qui, 08 de Abril de 2010 12:22
A nova ministra do Meio Ambiente, Izabella Mônica Vieira Teixeira, ex-secretária-executiva da pasta, assumiu o cargo no dia 31 de março em Brasília. Após 22 meses, Carlos Minc deixa o ministério para concorrer às eleições de outubro como candidato a deputado estadual no Rio de Janeiro. Bióloga registrada do CRBio-04 e doutora em planejamento ambiental, Izabella Teixeira é funcionária de carreira do Ibama.
Izabella ressaltou que pretende concluir os projetos e programas iniciados por Minc. "Vou trabalhar duro e espero ter sucesso nas ações do MMA com a participação engajada das entidades vinculadas ao ministério". Em seu discurso, o presidente Lula disse que o licenciamento da usina de Belo Monte - aprovado na gestão de Minc - foi muito importante para o abastecimento de energia no País, e relembrou a participação proativa do Brasil em Copenhague e a queda do desmatamento na Amazônia.
Izabella destacou ainda a atuação de Carlos Minc, avaliando que o ex-ministro fortaleceu o papel do ministério na discussão e elaboração de políticas públicas no País. "Minc trabalhou com muita dedicação e lealdade, foi contestador e polêmico, mas deixou o MMA mais robusto".
Muitos ambientalistas acreditam que a gestão de Carlos Minc no Ministério do Meio Ambiente trouxe avanços significativos, principalmente por colocar a questão ambiental no centro das discussões de governo e tirar a pasta da situação de isolamento político.
Com o desafio de conduzir a pasta anteriormente ocupada pela ministra Marina Silva, Minc assumiu em maio de 2008 em meio a forte debate nacional sobre a questão ambiental. A redução na taxa de desmatamento foi um resultado importante. Minc influenciou para que os Estados desenvolvessem seus planos de combate ao desmatamento e liderou a proposta do Brasil de ter metas de redução de desmatamento para a Cúpula do Clima de Copenhague (COP-15).
O Fundo Amazônia, apresentado internacionalmente em Bali, em 2007, foi aprovado pelo Presidente Lula em agosto de 2008. “O início da operacionalização do Fundo Amazônia para apoio aos primeiros projetos evidencia a importância da busca de soluções para valorizar a Amazônia e acabar com o desmatamento e a degradação de nossa floresta”, afirmou Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil.
“Uma das ações de destaque da gestão Minc foi conseguir chamar atenção para o Cerrado e colocar esse bioma no debate nacional, como já ocorre com a Amazônia”, disse Hamú.
De acordo com o WWF, a frente dos licenciamentos ambientais não foi fortalecida nesse período. Em vez de caminhar para uma “economia verde”, com planos integrados e com licennças ambientais estratégicas, no caso das hidrelétricas da Amazônia, o governo continuou a discutir grandes obras de maneira isolada e sem a articulação.
Fonte: Estadão

sábado, 17 de julho de 2010


Rejeitados pela mãe, filhotes de lobo-guará são adotados em zoo.
Dois filhotes de lobo-guará foram adotados por equipes do Zoológico Municipal de Nova Odessa, a 122 km de São Paulo, após serem rejeitados pela mãe. Ameaçados de extinção, os bichos nasceram no dia 20 de junho, em uma jaula do zoo. As fotos dos animais foram divulgadas nesta semana.



O nascimento surpreendeu os funcionários, pois a loba Linda, que vive há dois anos no zoológico, não apresentava sinais de gravidez. O parto não foi acompanhado e quem “descobriu” os lobinhos foi um vigia. “Mas, desde então, os pequenos lobos-guará já estão sendo acompanhados pela equipe”, disse a coordenadora municipal de Meio Ambiente, a bióloga Daniela Fávaro.

Inicialmente, três filhotes nasceram, sendo um macho e duas fêmeas. Uma das lobas, porém, morreu nas primeiras 24 horas de vida. Como era dia de jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo, o lobo recebeu o nome de Robinho, em homenagem ao jogador. Já a fêmea foi “batizada” de Jamile, palavra africana que significa “bonita”.

Os bebês são alimentados com mamadeiras pela equipe do zoo desde o quinto dia de vida, quando foram rejeitados. “No início, preparávamos um leite artificial semelhante ao da mãe. Agora, eles já são alimentados com leite de vaca, a cada duas horas”, contou a coordenadora.

Eles são constantemente higienizados. Toda a preocupação é explicada pela veterinária Paula Faciulli. “Já é bastante raro que os lobos-guarás nasçam em cativeiro e eles não são como cães domésticos, porque são muito mais suscetíveis a doenças como cinomose e parvovirose”, disse.

Segundo a veterinária, a gestação da loba-guará dura de 62 a 66 dias e podem nascer de dois a quatro filhotes. Quando nascidos, os lobos-guará têm pelos pretos, mas com o tempo eles passam a ficar avermelhados.

Robinho e Jamile, que nasceram com 360 gramas, já têm, com 20 dias de vida, 800 gramas cada um. “Eles nasceram com pneumonia e já foram medicados e sararam, mas os cuidados continuam”, comentou Daniela.

Por serem muito pequenos, os bichos não podem ser vistos pelo público ainda. Porém, quem quiser pode fazer uma visita aos seus pais, Linda e Lobão. O zoológico fica na Rua João Bolzan, 475, no Residencial Mathilde Berzin, em Nova Odessa. O local abre ao público de terça-feira a domingo, das 8h às 17h.



Texto retirado do G1.



Buriti
Mauritia flexuosa L. f.
“Morety he outro modo de palma mto comprida e no alto tem hua roda q faz cõa folhada e dá hus cachos de coquos mto grandes ... a fructa se come.”
C.Lisboa 1631, em “Animais e Árvores do Maranhão”

No bioma Cerrado é a espécie que caracteriza as veredas, marcante fitofisionomia da região, ocorrendo também em matas de galeria e ciliares, podendo formar densos buritizais. Para além dos domínios do Cerrado, corre em toda a Amazônia e Pantanal, sobre solos mal drenados, em áreas de baixa altitude até 1000m, sendo considerada a palmeira mais abundante do país.


Produz anualmente grande quantidade de frutos, que podem ser consumidos ao natural, na forma de sucos, sorvetes, doces ou desidratados.

Segundo Rafael Teixeira, guia na Chapada dos Veadeiros especializado em flora e avifauna do Cerrado, os frutos integram a dieta de mamíferos como a cutia, a capivara e a anta, e de aves como a arara.

Em algumas cidades no Piauí, como Dom Expedito Lopes, o doce do buriti é fabricado e embalado em caixinhas feitas a partir do talo (pecíolo) de folhas do próprio buriti. O doce é comercializado em feiras do Distrito Federal e Goiânia.

“As mulheres guerreiras, senhoras de seu corpo, são como a palmeira do murity, que rejeita o fructo antes que elle amadureça e o abandona á correnteza do rio.”
J. Alencar 1874



A espécie possui íntima relação com a água, que atua na dispersão de seus frutos e auxilia na quebra da dormência das sementes.
O viveirista Julmar Andrade, o "Mineiro", recomenda que antes do plantio devemos deixar as sementes do buriti de molho durante 30 dias, trocando a água todos os dias. O procedimento quebra a dormência das sementes e promove uma homogeneização na germinação do lote.

Os pecíolos (talos) e a palha de suas folhas são muito utilizados na cobertura de casas e ranchos, bem como no artesanato regional, para a confecção de cestos e móveis.



“...palmeira denominada brutíz, que he alta, e grossa com folhas de mais de sete pés de comprimento: do seu fructo fazem os índios, e ainda os antigos certanistas um vinho, que se asemelha ao da videira na cor e gosto.”
Casai 1817, em Corografia Brasílica



Indivíduo jovem de buriti às margens do rio São Joaquim, na Chapada dos Veadeiros, Goiás

Banquinho-baú de madeira e palha de buriti, ao lado de vaso de cerâmica marajoara e da pastor alemão Terra.
O uso medicinal está associado ao óleo extraído da polpa dos frutos, com propriedades energéticas e vermífugas.

Rico em pró-vitamina A (500 000 UI), com índice de 300mg/100g, o óleo é usado contra queimaduras na pele, provocando alívio imediato e auxiliando na cicatrização. O óleo absorve radiações no espectro ultra-violeta, sendo um eficiente filtro solar Tem sido empregado recentemente pela indústria cosmética entrando na composição de sabonetes, cremes e xampus.

quinta-feira, 15 de julho de 2010


Inseto que se encontra em um cerrado

Desmatamento no Cerrado é duas vezes maior do que na Amazônia

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc ressaltou a importância de se tornar patrimônio nacional a Caatinga e o Cerrado
Por: Pedro Peduzzi

Publicado em 10/09/2009, 13:34

Última atualização às 13:34


Ministro participa de audiência públicadas comissões de Legislação Participativa e de Meio Ambiente da Câmara para discutir proposta de emenda constitucional que considera o cerrado com patrimonio nacional (Foto: Wilson Dias/ABr)
Brasília - No Brasil, desmata-se uma área de 20 mil quilômetros quadrados de Cerrado a cada ano. Isso corresponde ao dobro do que é desmatado na Amazônia. A informação – antecipada nesta quinta-feira (10) pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, durante a abertura da Comissão Legislativa Participativa da Câmara dos Deputados – será detalhada durante a coletiva destinada a apresentar o primeiro monitoramento do desmatamento do Cerrado brasileiro.

“Há dez anos, segundo nossos dados, tanto na Amazônia como no Cerrado eram desmatados 20 mil quilômetros quadrados por ano. Felizmente conseguimos, por meio dos programas tocados pelo governo, reduzir pela metade o desmatamento no bioma amazônico. A má notícia é que ainda não conseguimos fazer isso pelo Cerrado”, disse Minc.

O ministro ressaltou a importância da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 115/95, que torna patrimônios nacionais o Cerrado e a Caatinga. “Já faz 14 anos que essa PEC está tramitando. É importantíssimo que estendamos o monitoramento do desmatamento também a outros biomas, como a Caatinga, o Pantanal e o Pampa.”

Segundo ele, será possível apresentar metas concretas visando à redução do desmatamento de todos os biomas a partir de junho de 2010. “A base do plano será apresentada ainda hoje. O Cerrado é fonte da maior parte do manancial de águas do país e não pode ser prejudicado pelo agronegócio”, acrescentou.

Após participar da abertura da comissão, Minc seguiu para a sede do Ministério do Meio Ambiente para lançar o Plano de Ação de Prevenção e Controle do Desmatamento no Bioma Cerrado.

Fonte: Agência Brasil

FLORA ,FAUNA E HIDROGRAFIA

As Formigas e a farra do pequi - comunidade rural Padre Trindade - foto Zenaido
BIOMA CERRADO - O PEQUISEIRO E AS BARRAGINHAS EM FORMIGA E ARCOS ESTADO DE MINAS GERAIS
The PEQUISEIRO AND IN BARRAGINHAS ants and ARCOS state of Minas Gerais







Nosso cerrado da região de Formiga e Arcos ainda conta com pequizeiros. Com fé em Deus e a ação consciente da população rural e urbana aumentaremos ainda mais a quantidade dessa planta no bioma cerrado. Esse ano, a frutificação foi maior. Os pés estão com uma carga bem maior do que em outros anos principalmente nos pés próximo as barraginhas construídas para a colheita de água de chuva. Esse fato foi observado também com as gabirobas e articum liso, conforme Maria Vitória percebeu e documentou com fotos.



Em uma de nossas visitas no dia 26 de dezembro de 2008, para avaliar o desempenho das barraginhas físicas e das barraginhas espirituais, aquela que se formou na mente da pessoa humana e que propicia a necessária subjetividade que resulta em sustentabilidade, pudemos ver um pouco mais do pequi. Pés carregados logo abaixo da barraginha e “estourando” a casca verde e expondo a “gema” amarela – sua excelência o pequi. Constatamos que há uma corrida ao outro nesta fase inicial quando o pequi começa a cair. As formigas fazem a festa como vários outros tipos de animais. Em nossa região ainda não há um aproveitamento melhor do pequi. É preciso conhecer melhor para gostar e valorizar mais.



Em Janaúba, minha terra o fruto é muito cobiçado e em época de pouca oferta chega a mais de R$4,00 a dúzia. Conversei hoje com Antonina e ela disse que na feira livre de Janaúba, hoje, o pequi classe “A” foi vendido a R$2,00 a dúzia e o B a R$1,00. Afirmou que há duas semanas atrás era vendido em torno de R$4,00 a dúzia. Geralmente começa com R$4,00 cai o preço com o aumento da oferta e encerra a safra com o preço médio de R$4,00.



Segundo Pertones da comunidade Quilombola do Curiau no Amapá seus familiares apreciam muito o fruto e o chamam de pequiá. Eles compram em feiras livres e supermercados. O fruto vem do Pará. Em relação aos frutos da região de Formiga e Arcos, a diferença, segundo ele, é que a polpa é mais fina e com coloração entre amarelo clarinho e amarelo ouro.



Segundo Cláudia Sakai e Luciana Macedo - Estagiárias Embrapa Cerrados/UEP-TO pequi (Caryocaraceae) é uma fruta nativa do Cerrado , conhecida popularmente como "piqui", "piquiá", "piqui-do-cerrado". As plantas podem chegar até sete metros de altura e produzem de 500 a 2000 frutos. Os frutos são do tipo drupa (formato do fruto ) com quatro lóculos que contêm cerca de cem a trezentos gramas. O pequizeiro floresce de agosto a novembro , iniciando a maturação dos frutos em meados de novembro até início de fevereiro .



Suzinei Oliveira destaca que os frutos além de serem utilizados na culinária brasileira servem para a extração de óleos utilizados na indústria farmacêutica para obtenção de cosméticos . "A madeira pode ser aproveitada na construção civil e no setor medicinal , o óleo produzido pode ser usado contra bronquites , gripes , resfriados e expectorante ", completa Suzinei

CLASSIFICAÇÃO CIENTÍFICA:

Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Carnivora
Família: Canidae
Género: Chrysocyon
Espécie: C. brachyurus


INFORMAÇÕES IMPORTANTES:

O lobo guará pode ser encontrado na América do Sul, principalmente no Brasil, no Paraguai, na Bolívia e na Argentina

Como possuem pernas compridas e ágeis, pode facilmente subir em morros e montanhas. Essa característica física favorece também os saltos no momento da caça

Alimenta-se princilamente de aves, roedores, raízes e algumas espécies de frutos

É uma espécie de hábitos solitários, não formando alcatéias como fazem outras espécies de lobos

Preferem a noite para caçar

A gestação da fêmea dura, em média, 68 dias. Ela dá cria de 4 a 6 filhotes

Doenças trasmitidas por cães domésticos, atropelamentos e derrubada de matas são os principais motivos que estão provocando a extinção destas espécie animal

No Brasil, podemos encontrar o lobo guará nas seguintes regiões: Chapada dos Veadeiros, Serra da Canastra, Parque das Emas, Serra do Cipó, Chapada dos Guimarães, Ilha Grande, Reserva Ecológica do Roncador e Serra da Bocaina

É um mamífero de comportamento tranquilo, porém pode atacar para defender-se em situações de ameça


CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS:

Espectativa de vida: em média vivem 20 anos
Comprimento: 1,20 metros aproximadamente
Cor: castanho claro avermelhado com manchas marrom nas pernas, caldas e pescoço
Peso: de 20 a 25 kilos aproximadamente
Altura: 70 cm aproximadamente

Araticum
Annona crassiflora Mart.
Também é conhecido por marolo ou bruto.
“Araticû he hua aruore do tamanho de laranjeira, e maior, a folha parece de cidreiras ou limoeiro, he aruore fresca, e graciosa, dá hua fruita da feiçaõ e tamanho de pinhas, e cheira be tem arezoada gosto, e he fruita desenfastiada”
Cardim, 1584 em Do clima e Terra do Brasil

Araticum é nome dado à diversas espécies da família Annonaceae, mesma da fruta-do-conde (Annona squamosa), conhecida também como ata ou pinha, dependendo da região. Pio Corrêa relata que a primeira muda desta espécie foi plantada no país pelo Conde de Miranda, na Bahia no ano de 1626.


Figura 1: A - Árvore com altura de cerca de 5 metros, com frutos maduros e de vez; B – ramos portando frutos; C – ritidoma (casca externa do tronco e ramos). Núcleo Rural Boa Esperança II, Distrito Federal. 16/02/2007.

Segundo professor, da Universidade de Brasília-UnB, em Guia de Campo para árvores do cerrado, o nome araticum é derivado do tupi, podendo significar árvore de fibra rija e dura, fruto do céu, saboroso, ou ainda fruto mole.

Trata-se de uma árvore (Fig. 1A), sem exsudação de látex no caule ou ao se destacar a folha, com ramos e brotos com pilosidade ferrugínea; tronco pode alcançar cerca de 40 cm de diâmetro, o ritidoma (casca) é bege ou cinzento, com fissuras e cristas estreitas, descontínuas e sinuosas (Fig. 1C); suas folhas são simples, alternas, de 5-16cm de comprimento e 3 a 12 de largura, possuem as margens lisas e nervações bem marcadas na face superior; sua consistência é bem firme (coriácea). Flores de até 4cm de comprimento, com seis pétalas livres entre si, de coloração creme ou verde ferrugínea, consistência carnosa, que pouco se abrem (Fig. 2A); são três pétalas maiores, dispostas externamente, e três menores internas; seus frutos alcançam mais de 15 cm de diâmetro e 2kg de peso, contendo muitas sementes com cerca de 1,5cm de comprimento.


Figura 2: A - Flores de araticum, pétalas externas de coloração verde ferrugínea; B – Sépalas (03) de coloração marrom ferrugíneo. Núcleo Rural Boa Esperança II, Distrito Federal. 07/10/2007.

Ovário feminino composto por inúmeros carpelos soldados, as escamas já guardam semelhança com o fruto maduro.


Ocorre em cerrados e cerradões, ao longo de todo o bioma Cerrado.

Sua floração se dá predominantemente de setembro a janeiro e frutifica de outubro a abril (principalmente de fevereiro a março), sendo a dispersão das sementes realizada pela própria gravidade ou por animais. Na Caatinga foi constatada a dispersão de araticum (Annona coriaceae) por formigas (Pheidole sp.) e no Mato Grosso, sementes (A. crassiflora) foram encontradas nas fezes da rapozinha-do-campo (Lycalopex vetulus), o menor canídeo das Américas, mesmo em área sem a ocorrência da árvore. Um quilo contém aproximadamente 1400 sementes, que perdem rapidamente a viabilidade se armazenadas.

A germinação do Araticum pode ser antecipada em até 36 dias e concentrada em até 3 meses após a semeadura, com o uso de ácido giberélico (GA3). Recomenda-se colocar as sementes imersas numa solução contendo 1g de Ácido giberélico por litro de água, por um período de 24h, antes da semeadura (Melo, 1993, apud Silva et al. 2001)

Quando aberto, o fruto oferece uma polpa cremosa de odor e sabor bem fortes e característicos. A polpa pode ser consumida ao natural ou na forma de batidas, bolos, biscoitos e bolachas, picolés, sorvetes, geléias e diversos doces.

“Pois, várias viagens, ele veio ao Curralinho, vender bois e mais outros negócios – e trazia para mim caixetas de doce de buriti ou de araticúm, requeijão e marmeladas.” Guimarães Rosa em Grande sertão: veredas, pg. 115.

Receita de doce pastoso de Araticum:

Ingredientes: 1 medida de polpa de araticum, 1 medida de açúcar, 1 e meia medida de leite.
Modo de Fazer: Passar a poupa por uma peneira e juntar com os outros ingredientes. Levar ao fogo numa panela até ficar pastoso. Retirar do fogo, deixar esfriar e colocar em frascos de boca larga. Fonte: Almeida 1998.



Composição química e valor energético de 100g da polpa do araticum.

Resultados preliminares de pesquisa conduzida por duas universidades, a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e a Universidade Católica de Goiás (UCG), revelam que o araticum e o pequi possuem fatores antioxidantes, sendo fortes aliados da população na prevenção de doenças degenerativas.

Utilização medicinal do Araticum.
Indicações
Parte usada
Preparo e dosagem
diarréia crônica

sementes

Infuso ou decocto: 1 colher de sopa de sementes raladas ou picadas para 1 litro de água. Tomar de 3 a 6 colheres de sopa do chá ao dia.
Fonte: Rodrigues e Carvalho 2001
O araticum integra a medicina das populações tradicionais da região da Chapada dos Veadeiros, Goiás, que o utilizam como regulador de menstruação, para reumatismo, feridas, úlceras, câncer de pele, fraqueza no sistema digestório, cólicas e contra diarréia.

Sorveterias de Brasília e Goiânia produzem sorvetes e picolés de araticum. A espécie contribui para as economias informal e formal, durante seu período de frutificação, em todo o Cerrado. É importante que pelo menos ¼ dos frutos disponíveis na área não seja coletado, de modo a não comprometer as populações naturais de araticum. Tais populações têm sido drasticamente reduzidas e isoladas, decorrência da devastação produzida pelas macro políticas de expansão agrícola, promovidas para a região do Cerrado.

De forma geral, a ocupação agrícola no bioma é concentradora de renda, além de ser um desastre do ponto de vista ambiental, ameaçando inúmeras espécies animais e vegetais, além de potencializarem processos erosivos e conseqüentes assoreamentos de nascentes e rios. Neste contexto, é de suma importância a organização de cooperativas e associações por pequenos proprietários e assentados rurais, para trabalharem os múltiplos recursos oferecidos pelo Cerrado.

Da mesma forma, em ambientes urbanos, é desejável a adoção de espécies nativas no paisagismo público e particular. Não é raro vermos as pessoas mandarem “limpar” seus terrenos, cortando indiscriminadamente todo o “mato” que há. Assim, o proprietário joga fora, sem ao menos tomar conhecimento, preciosidades como o araticum, o pequi, a cagaita, o jatobá, a gueroba, bromélias, orquídeas, entre outras espécies que poderiam compor os jardins de sua casa, oferecendo frutos, flores e atraindo aves com um mínimo de manutenção. Portanto, antes de mandar “limpar” seu terreno, procure saber quais as espécies de plantas já estão por lá presentes, você poderá se surpreender! Com um planejamento mínimo, é possível tornar o jardim da sua casa ou arborização de onde você mora em um pequeno “jardim botânico”, sem nem mesmo comprar uma muda de árvore. Observe e planeje antes de intervir.


Nome científico: Tabebuia chrysotricha
Nomes populares: ipê-amarelo, ipê-tabaco
Origem: Brasil
Família: Bignoniáceas
Luminosidade: sol pleno
Porte: Pode chegar a 8 metros de altura
Clima: quente e úmido
Copa: rala, com diâmetro um pouco maior que a metade da altura
Propagação: Sementes
Solo: fértil e bem drenado
Podas: recomenda-se apenas podas de formação

Originária do Brasil é a espécie de ipê mais utilizada em paisagismo. Durante o inverno, as folhas do ipê-amarelo caem e a árvore fica completamente despida. No início da primavera, entretanto, ela cobre-se inteiramente com sua floração amarela, dando origem ao famoso espetáculo do ipê-amarelo florido. Quanto mais frio e seco for o inverno, maior será a intensidade da florada.

Pains - Maravilhas subterrâneas






Situada sobre uma das maiores reservas de calcário do mundo, a pequena Pains, localizada no centro-oeste mineiro, é uma cidade de grandes belezas naturais.
O calcário, utilizado hoje em mais de 70% dos produtos industrializados, é a grande fonte de renda para quase a totalidade de seus 8 mil habitantes. Mas nem sempre foi assim, Pains, cujo nome origina de uma família local, foi no passado grande produtora de suínos e produtora de leite. Hoje porém, com a chegada do turismo, a história da região começa a mudar. Devido às formações de calcário, o subsolo da cidade é um verdadeiro queijo suíço. São centenas de grutas, cavernas, poços, e rios subterrâneos que deram a Pains o título de maior concentradora de cavernas da América. São mais de 2.000 conhecidas e 400 cavernas já mapeadas. Mal se emerge de uma fenda, já se encontra outra entrada diferente a poucos metros de distância.
Algumas delas, como a do Éden, possuem rios subterrâneos que formam galerias de dezenas de quilômetros. Em cada caverna se encontra uma formação diferente. A do Zizinho, por exemplo, é rica em formações conhecidos como bacias de travertinos, minúsculas represas de calcário misturado com o minério calcita. Esta formação, quando iluminada, reflete como se fosse uma parede de diamantes. Na caverna do Jorge, situada no sítio Quatro Estações, os espeliotemas, como são chamadas as formações das cavernas, são mais variadas. Existem estalactites(formações no teto), estalagmites (formações no chão) e impressionantes helictites, que desafiam a lei da gravidade e adquirem várias formas. Mas não só de cavernas vive o turismo de Pains.
Existem vários sítios arqueológicos espalhados na região. Como são de difícil acesso, vale a pena visitar o museu do Corumbá, onde algumas amostras estão expostas. Outro atrativo da região são as orquídeas, que se espalham em cores e variedades pelas matas nativas. De qualquer ângulo, por baixo ou por cima da terra, Pains é um lugar que merece ser explorado, pois seus segredos ainda estão para serem descobertos.
Dicas de viagem
Pains tem pouca estrutura turística. A melhor dica é ficar na pousada e sítio Quatro Estações. Há chalés e quartos para todos os gostos. Dentro da pousada, há trilhas para bike, trekking, 4 x 4 e mais de 50 cavernas para serem exploradas

Espeleologia (do latim spelaeum, do grego σπήλαιον, "caverna", da mesma raiz da palavra "espelunca") é a ciência que estuda as cavidades naturais e outros fenómenos cársticos, nas vertentes da sua formação, constituição, características físicas, formas de vida, e sua evolução ao longo do tempo.
A geologia, geografia, hidrologia, biologia (bioespeleologia), climatologia, arqueologia e Química são algumas das ciências que contribuem para o conhecimento espeleológico. Os estudos espeleológicos apoiam-se frequentemente em levantamentos topográficos. A simples exploração ou visita das cavernas está por vezes associada à espeleologia, embora não se deva confundir com esta ciência.

quarta-feira, 14 de julho de 2010


Descoberta nova espécie de pererecaUma perereca nativa do cerrado, com 3,5 cm de comprimento pode ser a esperança no combate ao Trypanosoma cruzi, parasita que causa a doença de Chagas. Estima-se que o mal atinja cerca de 18 milhões de pessoas em todo o mundo; quase 4 milhões no Brasil. A pequena perereca, Phyllomedusa oreades -- ainda sem nome popular --, traz na pele um princípio ativo, chamado dermaseptina, que já está sendo estudado por uma equipe de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com resultados animadores.
A descoberta amplia o conhecimento sobre o cerrado, segundo maior bioma brasileiro e um dos mais ameaçados. Ao mesmo tempo, chama a atenção para a necessidade de mais pesquisas sobre os anfíbios brasileiros. O número de espécies descritas dessa classe ainda é pequeno se comparado à sua biodiversidade, que se revela surpreendente.

A nova espécie descoberta pelo herpetólogo Reuber Brandão, do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília, foi descrita no Journal of Herpetology. A Phyllomedusa oreades é endêmica das terras altas do Planalto Central, regiões com altitudes superiores a 900 m. Pode ser encontrada em áreas da chapada dos Veadeiros, na serra dos Pirineus, nas partes altas da serra da Mesa e no Distrito A perereca tem coloração dorsal verde com desenhos reticulados nas cores preta, sépia e púrpura sobre um fundo amarelo ou laranja nas laterais do corpo. Vive em pequenos riachos de águas cristalinas, com fundo de pedras, nos campos rupestres típicos de montanhas. Durante o longo período de seca do cerrado, o animal abriga-se sob os cupinzeiros, onde a temperatura mais baixa e a umidade são vitais para sua sobrevivência.

Como parte da respiração das pererecas se dá pela pele, elas necessitam de umidade para manter sua fisiologia em funcionamento. É comum aos anfíbios a existência de secreções de pele com diferentes funções, destacando-se a proteção contra predadores e agentes infecciosos. Muitas das secreções dos anfíbios são conhecidas por serem biologicamente ativas, em sua maioria, alcalóides, aminas e peptídeos.

Na pele das espécies do gênero Phyllomedusa, encontra-se uma classe de peptídeos antimicrobianos chamados phyllomedusinas. Na nova espécie, é essa dermaseptina que pode agir contra o Trypanosoma cruzi, sem apresentar toxidade às células sangüíneas in vitro. Os primeiros resultados dessas pesquisas estão publicados no Journal of Biological Chemestry, em artigo escrito em conjunto por pesquisadores brasileiros, chefiados pelo químico Carlos Bloch, do Laboratório de Espectometria de Massa da Embrapa.

Campeão em anfíbios

O Brasil possui rica diversidade em espécies de anfíbios. Está entre as maiores do mundo, com cerca de 550 espécies conhecidas, sendo 150 delas registradas no cerrado. Mas esse é um número considerado pequeno diante do que o bioma ainda esconde. "Esse fato mostra o quanto estamos longe de um conhecimento minimamente satisfatório em relação às nossas espécies, sobretudo no cerrado", diz Reuber Brandão. Falta de recursos para pesquisas e a velocidade com que se destrói o bioma são fatores que impedem o avanço das investigações.

"No primeiro caso, ainda se pode recuperar o tempo perdido. Resta saber se no futuro haverá cerrado para abrigar as espécies ainda não estudadas", questiona. A lista oficial do Ibama apresenta 16 espécies de anfíbios em perigo de extinção. Número que, provavelmente, é bem maior considerada a escassez de dados sobre as perdas da biodiversidade nacional.

Os anfíbios apresentam alto grau de endemismo -- várias espécies vivem apenas em áreas restritas com condições ambientais específicas. Se a área for degradada e essas condições desaparecem, muitas espécies podem ser extintas. Devido às suas características fisiológicas, sobretudo aquelas relacionadas à sua pele, os anfíbios são animais muito suscetíveis à contaminação química das águas, explica Brandão. Para ele, a introdução de espécies invasoras, as mudanças climáticas globais, os desmatamentos e a diminuição da camada de ozônio são fatores que põem em risco a vida desses animais.

Com pele permeável e ovos aquáticos envolvidos por uma delgada camada gelatinosa, os anfíbios absorvem rapidamente substâncias diluídas no meio à sua volta. "Por necessitarem de boa qualidade dos ambientes para a reprodução, são excelentes indicadores ambientais. Sua presença pode denunciar a saúde do ecossistema que habita" diz o herpetólogo.

Fonte: Revista Ciência Hoje

Cientistas descobrem nova espécie de cobra-de-duas-cabeças no Cerrado
Animal, nativo de Goiás, apareceu durante obras de usina hidrelétrica.
Anfisbênios são grupo ainda pouco estudado de répteis.
Reinaldo José Lopes
Do G1, em São Paulo
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A construção de uma hidrelétrica no sudoeste de Goiás acabou trazendo à superfície uma nova espécie de cobra-de-duas-cabeças, ou anfisbênio. Esses répteis, que passam a maior parte de sua vida debaixo da terra, ainda são relativamente misteriosos para os biólogos, e sua diversidade ainda é pouco conhecida -- tanto que muitas outras espécies ainda podem estar esperando para serem descobertas.


O réptil clicado em seu ambiente natural (Foto: Reprodução)

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"Em regiões mais quentes eles parecem ser de difícil acesso, havendo poucos registros de encontros ocasionais para muitas das espécies de anfisbênios. Em lugares nos quais alguns meses do ano são mais frios, é possível encontrá-los mais facilmente perto da superfície para tentar se aquecer. No entanto, obras grandes para construções ou para abertura de áreas para plantio estão revelando animais desconhecidos com frequência no Cerrado e na Caatinga", contou ao G1 a bióloga Síria Ribeiro, doutoranda da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Ribeiro e seus colegas Alfredo Santos-Jr., também da PUC-RS, e Willian Vaz-Silva, da Universidade Federal de Goiás, descreveram formalmente o novo réptil em artigo na revista científica "Zootaxa". A criatura ganhou o nome de Leposternon cerradensis por ser, por enquanto, o primeiro membro de seu gênero, o Leposternon, a ser encontrado apenas no Cerrado. Os pesquisadores ainda não têm dados precisos sobre as profundidades que ele habita, sua dieta (provavelmente composta por pequenos insetos também subterrâneos, como formigas, cupins ou larvas deles) ou mesmo sua distribuição geográfica.

"Normalmente, o que acontece é que, quando a terra está sendo escavada durante determinada obra, os bichos são encontrados. Também pode acontecer de eles subirem à superfície quando o reservatório de uma hidrelétrica está se enchendo", fugindo da água, explica Ribeiro. Por isso mesmo, os biólogos acabam dependendo de um golpe de sorte (ou de azar, levando em conta a bagunça no habitat do animal) para conseguir observar as criaturas.

Foi Vaz-Silva, que acompanhava a construção da Usina Hidrelétrica de Espora no município de Aporé (GO), o responsável por recolher os espécimes da cobra-de-duas-cabeças durante um procedimento de resgate de fauna. "Ele me mandou as fotos e eu logo notei que se tratava de um bicho novo, porque morfologicamente ele é muito diferentes das outras espécies de Leposternon", diz a bióloga da PUC-RS.

Cabeças
Ribeiro explica que "cobra-de-duas-cabeças" está longe de ser um nome popular adequado. "Na verdade a cabeça verdadeira é bem característica. O problema é que as pessoas têm tanto medo de serpentes e assemelhados que não conseguem olhar direito", brinca. Bobabem: para humanos, os anfisbênios são inofensivos. Na verdade, o que confunde o observador casual, diz ela, além da leve semelhança no formato das duas extremidades, é o fato de que a locomoção do animal envolve o movimento de ambas as pontas do corpo, de forma que a cauda pode dar a impressão de ser a cabeça.

A nova espécie tem uma conformação especial da cabeça que faz com que ela funcione como pá, escavando o caminho adiante no subsolo. As principais diferenças do bicho em relação a seus parentes próximos estão em detalhes como as escamas da cabeça, nos chamados poros pré-cloacais e no número de meio-anéis dorsais e ventrais e anéis caudais que recobrem o corpo.

Os poros, como o nome diz, ficam perto da cloaca (abertura que, nos répteis, serve para todas as funções fisiológicas, como expelir urina e fezes e copular). "Não temos dados diretos sobre a função dos poros nessa espécie. Mas, em outros anfisbênios, estudos morfológicos indicaram que eles podem estar relacionados com a comunicação entre indivíduos da mesma espécie e de espécies distintas", diz Ribeiro.

A cor rosada do bicho não significa que ele seja albino, explica ela. "Ainda não sabemos muito a respeito disso, mas o Leposternon cerradensis compartilha com as demais espécies com poros a ausência de coloração escura, e essas espécies estão presentes, principalmente, em áreas abertas, podendo a coloração estar relacionada com o solo utilizado ou até mesmo um determinado ambiente", afirma a bióloga. É mais um mistério ainda não-elucidado sobre os anfisbênios, como o de sua distribuição geográfica -- ninguém sabe se as espécies encontradas num só lugar até hoje, como a nova, são mesmo únicas daquela região ou apenas muito discretas e comuns em outras.

Copaíba do Cerrado: risco de extinção


Genética ajuda a preservar a Copaíba do Cerrado paulista

"Estudos realizados na Estação Ecológica de Assis (EEA) em São Paulo, cuja área é de 1.760 hectares (17,6 milhões de metros quadrados), avaliaram a diversidade genética e o sistema reprodutivo de uma espécie de copaíba (Copaifera langsdorffii). O trabalho realizado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, traz subsídios para ações eficientes em relação à conservação e manejo da planta.

A copaíba tem propriedades medicinais e é utilizada na indústria de cosméticos. “Desde o século 17, o bálsamo extraído do tronco da planta é utilizado no tratamento de problemas respiratórios, e também como antiinflamatório e cicatrizante. Em cidades do sudeste do País, 100 mililitros (ml) do bálsamo envasado chegam a custar R$20,00. Mas devido à devastação que ocorre no Cerrado, a copaíba está em risco de extinção em diversos estados”, conta o biólogo Roberto Tarazi." Para ver o texto completo clique aqui.

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Por que devemos nos preocupar com a extinção das espécies?

Os meios de comunicação estão sempre trazendo notícias sobre alguma espécie ameaçada de extinção. Mas o que temos a ver com isso?
A ciência está longe de saber tudo sobre a biodiversidade, isto é, sobre o conjunto de espécies e ecossistemas que existe em nosso planeta. Mesmo sabendo realativamente pouco, as informações que os cientistas têm mostram, cada vez mais, o quanto nós dependemos da natureza em equilíbrio.
As florestas precisam ser preservadas porque têm papel fundamental na distribuição das chuvas, em continenetes inteiros. Sem falar que as matas também protegem o solo contra a erosão, ajudam a fixar nutrientes na terra e umidificam o ar. As áreas de floresta atuam retirando gás carbônico da atmosfera, o que é muito importante para conter o aquecimento global.
Também outros ecossistemas dependem das espécies ( animais e plantas) que vivem nesses ambientes. Assim, todos os seres vivos são importantíssimos para o equilíbrio da Terra.

Fonte:
Revista Ciência Hoje das Crianças
Nº 206, de outubro de 2009
Página 7

Recortes do texto de Anderson Aires Eduardo
Departamento de Ciências Biológicas,
Universidade Estadual de Santa Cruz


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Animais do cerrado lutam para sobreviver
Sem a vegetação nativa, tamanduás, antas e onças estão acuados e sem alimento.
CLÁUDIA GAIGHER
Goiânia (GO)
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Um paraíso perdido, isolado e ameaçado. Viemos descobrir o que é o Cerrado. Quem não é da região custa a perceber o valor e a beleza do ambiente que já cobriu o Brasil Central e hoje desaparece silenciosamente. A vida selvagem corre perigo!

Três onças filhote são que nem crianças: escapam em um piscar de olhos. Elas parecem gatos de estimação, mas são filhotes de onça parda. Chegaram ao Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama (Cetas) porque o cerrado, onde viviam, foi desmatado.

Os filhotes vão crescer em ambiente fechado. Jamais poderão ser soltos na natureza.

Os filhotes do maior carnívoro das Américas devem achar que liberdade é brincar com estranhos que entram em sua jaula.

"Infelizmente, elas estão muito acostumadas com gente, porque foram criadas desde muito bebês aqui. Tivemos que amamentá-las com mamadeira, então, elas ficaram acostumadas com as pessoas", diz o chefe do Cetas em Goiás, Léo Caetano.

Esse é o destino de muitos animais do cerrado. As pequenas trigêmeas estavam perto de um canavial. "Uma pessoa do Corpo de Bombeiros ouviu os miados e, sem saber se elas estavam com a mãe ou não, trouxe para Cetas”, conta Léo Caetano.

"Parecem gatos de estimação, mas são filhotes de onça-parda. Chegaram aqui porque o cerrado onde viviam foi desmatado. Esses filhotes vão crescer em ambiente fechado. Jamais poderão ser soltos na natureza", diz Léo Caetano.

O Cetas é o abrigo provisório das maiores vítimas do desmatamento. Difícil é achar um local que receba esses bichos. Só em Goiânia, no centro do Ibama, são sete suçuaranas. Nina cresceu no local. Nem liga para gente estranha dentro da jaula. Mas por que tantos animais presos ou feridos? O problema se repete Brasil afora em toda a região de matas.

As rodovias atravessam áreas rurais onde ainda existem pequenas reservas de cerrado, refúgio de diversos bichos. Mas as matas ficam isoladas. Faltam espaço e comida para os animais, quando eles escapam da área protegida.

"Os animais não sabem onde podem passar por uma rodovia sem serem atropelados. Existem muitos casos de filhotes de tamanduá que foram encontrados no dorso da mãe atropelada que morreu", conta Léo Caetano.

Foi o que aconteceu com mais um órfão de tamanduá. Uma papa de leite, verduras e frutas substitui o leite materno. O filhotinho de tatu bebe leite em um copinho.

No centro de triagem, chegam por ano pelo menos cem animais atropelados. Um ouriço-caxeiro foi socorrido. Muito ferido, precisou de sedativo para diminuir a dor. Ele quebrou uma pata e foi operado.

"Ele perdeu os espinhos por causa do atropelamento. Esse animal tem alta capacidade de soltar os espinhos. Então, por qualquer coisa, ele perde mesmo. Depois, nascem de novo, já está nascendo", diz a veterinária Andréa de Moraes.

Em um dia especial, um filhote teve alta no centro de tratamento. De Goiânia, ele vai para uma fazenda afastada da cidade cercada de verde. Nenhum bicho fica preso. As aves que foram resgatadas seriam vendidas por traficantes de animais silvestres.

O quarto da fazenda virou berçário. Carinho e mamadeira para os órfãos do cerrado. Assustado, um filhotinho de paca se esconde embaixo do armário e só sai atraído pela comida. Sempre sobra espaço para mais um sobrevivente.

Um tamanduá-mirim é o mais exibido – sempre aparece para uma visitinha. Já um filhote de ouriço-caixeiro é tímido e se esconde no alto de um pé de amora. Ele também foi atropelado, mas já se recuperou. A estudante de biologia Elizabeth Ferreira Lima, a Beth, está sempre atenta, leva um agradinho antes do almoço.

Um filhote de tamanduá-bandeira ganha companhia na creche. Beth e o marido são apaixonados pela natureza e decidiram transformar a propriedade da família em um lugar seguro para os animais do cerrado.

"Deixamos mais de 50% da área preservada, sem desmatar, para ser um refúgio mesmo dos animais", conta Beth.

Telmo Alves Lima é bancário e ela, estudante de biologia. Juntos, viraram os "pais adotivos" dos animais que foram salvos pelo pessoal do Ibama.

Telmo descreve o que passava em seu coração quando via um filhote de tamanduá recuperado ser levado para um zoológico. "Acho uma injustiça. Se ele não cometeu crime algum por que seria preso o resto da vida? Acho que soltar é melhor. Por aqui já passaram dez".

Julie, a filha do caseiro, nem fala direito, mas já se entende com os filhotes. Tão bebezinho, um filhote de tamanduá precisa se sentir seguro e agarra uma oncinha de pelúcia.

"Na natureza, o instinto do animal é ficar agarradinho na mãe. Quando nasce, a mãe já carrega ele no dorso. Por isso a gente coloca o ursinho como a mãe. Fazemos essa adaptação, e ele aceita muito bem", explica a mãe adotiva.

Os filhotes estão sempre famintos. Um tamanduá é pequeno, mas já tem a língua muito comprida. A mamadeira pode ser um perigo. Na ânsia de mamar, um filhotinho engasgou e engoliu a língua. Parece estranho, mas só sacudindo-o ele pode ser salvo.

Não é nada fácil cuidar de um animal silvestre. Afinal, o lugar deles é na mata, crescendo e aprendendo a viver em liberdade. Mas o que fazer para que esses animais não dependam tanto da ajuda das pessoas?

Não é só soltar os animais na natureza – é preciso ter certeza que eles vão sobreviver. Por isso, uma tela no meio da mata é o último estágio antes da soltura. Os tamanduás ainda recebem alimentos. É preciso andar bem devagar, porque estágio eles estão desacostumados com a presença das pessoas. Em breve, serão soltos e viverão livres.

Difícil é tirar o bicho do cercado. Antes de ganhar a liberdade, uma fêmea com mais de um ano de recebeu um brinco de identificação e uma coleira para emitir ondas de rádio e facilitar o monitoramento. No meio da mata, a fêmea de tamanduá foi finalmente solta. Ela estranhou no começo, tentou reconhecer o ambiente. Precisou de tempo.

Acompanhar o retorno desses animais para a vida selvagem é a pesquisa de Beth na faculdade de biologia. Olhar atento, concentração para ouvir o sinal do rádio em meio aos sons da floresta.

O monitoramento é feito durante um ano, desde a soltura dos tamanduás. No primeiro mês, as pesquisadoras passam horas todos os dias dentro da mata tentando achar o bicho.

“Ela come a papa que usamos no processo de soltura branda. Ela já percebeu nossa presença e não está mais aceitando a presença de humanos. Às vezes fica agressiva e corre atrás das vozes", explica Beth.

Ela avança em direção a equipe! A antena afugentou o bicho assustado. A agressividade é um bom sinal: o tamanduá bandeira, que está ameaçado de extinção, já recuperou o instinto selvagem.


- O Cerrado Brasileiro -



É a segunda maior formação vegetal brasileira. Estendia-se originalmente por uma área de 2 milhões de km², abrangendo dez estados do Brasil Central. Hoje, restam apenas 20% desse total.Típico de regiões tropicais, o cerrado apresenta duas estações bem marcadas: inverno seco e verão chuvoso. Com solo de savana tropical, deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio, abriga plantas de aparência seca, entre arbustos esparsos e gramíneas, e o cerradão, um tipo mais denso de vegetação, de formação florestal. A presença de três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata) na região favorece sua biodiversidade .

Estima-se que 10 mil espécies de vegetais, 837 de aves e 161 de mamíferos vivam ali. Essa riqueza biológica, porém, é seriamente afetada pela caça e pelo comércio ilegal.O cerrado é o sistema ambiental brasileiro que mais sofreu alteração com a ocupação humana. Atualmente, vivem ali cerca de 20 milhões de pessoas. Essa população é majoritariamente urbana e enfrenta problemas como desemprego, falta de habitação e poluição, entre outros. A atividade garimpeira, por exemplo, intensa na região, contaminou os rios de mercúrio e contribuiu para seu assoreamento. A mineração favoreceu o desgaste e a erosão dos solos. Na economia, também se destaca a agricultura mecanizada de soja, milho e algodão, que começa a se expandir principalmente a partir da década de 80. Nos últimos 30 anos, a pecuária extensiva, as monoculturas e a abertura de estradas destruíram boa parte do cerrado. Hoje, menos de 2% está protegido em parques ou reservas.

Pequenas árvores de troncos torcidos e recurvados e de folhas grossas, esparsas em meio a uma vegetação rala e rasteira, misturando-se, às vezes, com campos limpos ou matas de árvores não muito altas – esses são os Cerrados, uma extensa área de cerca de 200 milhões de hectares, equivalente, em tamanho, a toda a Europa Ocidental. A paisagem é agressiva, e por isso, durante muito tempo, foi considerada uma área perdida para a economia do país.



Os Cerrados apresentam relevos variados, embora predominem os amplos planaltos. Metade do Cerrado situa-se entre 300 e 600m acima do nível do mar, e apenas 5,5% atingem uma altitude acima de 900m. Em pelo menos 2/3 da região o inverno é demarcado por um período de seca que prolonga-se por cinco a seis meses. Seu solo esconde um grande manancial de água, que alimenta seus rios.





Área total:
aprox: 2.100.000 km2
com ação antrópica: 700.000 km2



Entre as espécies vegetais que caracterizam o Cerrado estão o barbatimão, o pau-santo, a gabiroba, o pequizeiro, o araçá, a sucupira, o pau-terra, a catuaba e o indaiá. Debaixo dessas árvores crescem diferentes tipos de capim, como o capim-flecha, que pode atingir uma altura de 2,5m. Onde corre um rio ou córrego, encontram-se as matas ciliares, ou matas de galeria, que são densas florestas estreitas, de árvores maiores, que margeiam os cursos d’água. Nos brejos, próximos às nascentes de água, o buriti domina a paisagem e forma as veredas de buriti.




A presença humana na região data de pelo menos 12 mil anos, com o aparecimento de grupos de caçadores e coletores de frutos e outros alimentos naturais. Só recentemente, há cerca de 40 anos, é que começou a ser mais densamente povoada.

Saiba mais sobre o Cerrado Brasileiro:

Cerrado - Clima e Relevo
Cerrado - Código Florestal
Cerrado - Conservação
Cerrado - Fauna e Flora
Cerrado - Legislação
Cerrado - Leis de Crimes Ambientais
Cerrado - Tipos de Cerrado
Cerrado - Vegetação


Caracterização do Cerrado

A província do cerrado, como denominada por EITEN, englobando 1/3 da biota brasileira e 5% da flora e fauna mundiais.É caracterizada por uma vegetação savanícola tropical composta, principalmente de gramíneas, arbustos e árvores esparsas, que dão origem a variados tipos fisionômicos, caracterizados pela heterogeneidade de sua distribuição.

Muitos autores aceitam a hipótese do oligotrofismo distrófico para formação do Cerrado, sua vegetação com marcantes característica adaptativas a ambientes áridos, folhas largas, espessas e pilosas, caule extremamente suberizado, etc. Contudo apesar de sua aparência xeromórfica, a vegetação do cerrado situa-se em regiões com precipitação média anula de 1500 mm, estações bem definidas, em média com 6 meses de seca, solos extremamente ácidos, profundos, com deficiência nutricional e alto teor de alumínio.

Segundo EITEN os tipos fisionômicos do cerrado (latu sensu) se distribuem de acordo com três aspectos do substrato onde se desenvolvem: a fertilidade e o teor de alumínio disponível; a profundidade; e o grau de saturação hídrica da camada superficial e subsurpeficial. Os principais tipos de vegetação são:

TIPOS DE INTERFLÚVIO

Cerrado (strictu sensu) - é a vegetação característica do cerrado, composta por exemplares arbustivo-arbóreos, de caules e galhos grossos e retorcidos, distribuídos de forma ligeiramente esparsa, intercalados por uma cobertura de ervas, gramíneas e espécies semi-arbustivas.

Floresta mesofítica de interflúvio (cerradão) - este tipo de vegetação cresce sob solos bem drenados e relativamente ricos em nutrientes, as copas das árvores, que medem em média de 8-10 metros de altura, tocam-se o que denota um aspecto fechado a esta vegetação.

Campo rupestre - encontrado em áreas de contato do cerrado com o caatinga e floresta atlântica, os solos deste tipo fisionômico são quase sempre rasos e sofrem bruscas variações em relação a profundidade, drenagem e conteúdo nutricional. É caracteristicamente, composto por uma vegetação arbustiva de distribuição aberta ou fechada.

Campos litossólicos miscelâneos - são caracterizados pela presença de um substrato duro, rocha mãe, e a quase inexistência de solo macio, este quando presente não ocupa mais que poucos centímetros de profundidade até se deparar com a camada rochosa pela qual não passam nem umidade nem raízes. Sua flora é caracterizada por um tapete de ervas latifoliadas ou de gramíneas curtas, havendo em geral a ausências de exemplares arbustivos, ou a presença de raríssimos espécimes lenhosos, neste caso enraizados em frestas da camada rochosa.

Vegetação de afloramento de rocha maciça - representada por cactos, liquens, musgos, bromélias, ervas e raríssimas árvores e arbustos, cresce sob penhascos e morros rochosos.

TIPOS ASSOCIADOS A CURSOS D'ÁGUA

Florestas de galerias e florestas de encosta associadas - são tipos de vegetação que ocorrem de modo adjacente, estão associados a proximidade do lençol freático da superfície do solo. Assim como as florestas mesofíticas, constituem um tipo florestal, contudo estão situadas sob solos mais férteis e com maior disponibilidade hídrica, o que lhes atribui uma característica mais densa.

Buritizais e veredas - ocorrem nos fundos vales em áreas inundadas, inviáveis para o desenvolvimento das florestas de galerias. São caracterizados pela presença dos denominados "brejos" e a ocorrência de agrupamento de exemplares de buriti (Mauritia vinifera M.), nas áreas mais úmidas, e babaçu (Orbignya barbosiana B) e carnaúba (Copernicia prunifera M), em éreas mais secas.

Campo úmido - caracterizado por um campo limpo, com raras espécimes arbóreas, que permanece encharcado durante a época chuvosa e ressecado na estação seca, ou no final desta, em geral constitui uma área de transição que separa a floresta de galeria ou vereda do cerrado de interflúvio.

Distribuição do cerrado

O cerrado é a segunda maior região biogeográfica do Brasil, se estende por 25% do território nacional, cerca de 200 milhões de hectares (4), englobando 12 estados. Sua área "core", ou nuclear, ocupa toda a área do Brasil central, incluindo os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, a região sul de Mato Grosso, o oeste e norte de Minas Gerais, oeste da Bahia e o Distrito Federal.

Prolongações da área "core" do cerrado, denominadas áreas marginais, estendem-se, em direção ao norte do país, alcançando a região centro-sul do Maranhão e norte do Piauí, para oeste, até Rondônia, existem ainda fragmentos desta vegetação, formando as áreas disjuntas do cerrado, que ocupam 1/5 do estado de São Paulo, e os estados de Rondônia e Amapá.

Podem ser encontradas ainda manchas de Cerrado incrustadas na região da caatinga, floresta atlântica e floresta amazônica.

Devido a sua localização, o cerrado, compartilha espécimes com a maioria dos biomas brasileiros (floresta amazônica, caatinga e floresta atlântica). devido a esse fato possui uma biodiversidade comparável a da floresta amazônica. Contudo devido ao alto grau de endemismo, cerca de 45% de suas espécies são exclusivas de algumas regiões (4), e a ocupação desordenada e destrutiva de sua área o cerrado é hoje o ecossistema brasileiro que mais sofre agressões por parte do "desenvolvimento".

ostaria de divulgar um curso de 40 horas com certificados, que estará
acontecendo em março/abril de 2005 em Brasília-DF. O curso abrange temas sobre
Biologia, Manejo, Conservação, Clínica Médica, Produção e Legislação da Fauna
Brasileira, entre outros assuntos, ministrado por mestres, doutores e
profissionais de diferentes áreas que trabalham no IBAMA e outras instituições.


A inscrição será gratuita para pessoas (alunos, professores, pesquidadores,
etc.) que levarem um grupo de no mínimo 15 inscritos.

Maiores informações estão disponíveis no site www.faunaemfoco.com.br

Saudações,

Dalton Antunes

Zootecnista

Msc. Ciências Agrárias

Consultor Programa das Nações Unidas

MEIO AMBIENTE
Operação para salvar o cerrado

Governo de Goiás acata recomendação do Ministério Público e suspende atividade das carvoarias no Estado. Nos últimos quatro anos, 106,3 milhões de árvores goianas viraram carvão nas siderúrgicas de Minas Gerais



Diariamente, dezenas de caminhões circulam carregados de troncos e carvões pelo pátio de siderúrgica em Sete Lagoas (MG): 15% da produção vem da matéria-prima goiana



Sem ação efetiva, autofornos mineiros consumirão todo o cerrado do noroeste goiano até 2015





Uma operação de emergência está em curso para impedir a devastação acelerada do cerrado, o segundo maior bioma do país. A Polícia Militar de Goiás deu início essa semana à Operação Carga Limpa, que fecha as fronteiras do Estado para coibir o transporte irregular de carvão produzido com madeira nativa do cerrado.

A medida visa impedir principalmente o consumo da madeira pelas siderúrgicas mineiras. Elas são acusadas de, em menos de quatro anos, transformar em carvão 106,3 milhões de árvores do cerrado goiano. A madeira é usada para aquecer os autofornos na produção de ferro-gusa, a matéria-prima do aço, que responde por 10% do total de produtos exportados por Minas Gerais — estado com a segunda maior economia do país.

A legislação florestal de Goiás já proíbe o consumo de produtos de origem florestal nativa para abastecer o mercado. Mas foi reforçada no dia 1º de janeiro, graças a uma portaria da Agência Ambiental, que proíbe a venda, o consumo e o transporte de carvão por tempo indeterminado. O órgão é responsável pelo levantamento dos danos ao cerrado.

O estudo motivou ação civil pública movida pelo Ministério Público de Goiás, protocolada no fim de outubro. O MPGO quer responsabilizar 11 siderúrgicas mineiras e a Associação das Siderúrgicas para Fomento Florestal (Asiflor) pelos prejuízos ambientais decorrentes da exploração predatória do cerrado, sujeitando-as a pagamento de indenização e reparação dos danos.

Uma pesquisa realizada pela Fundação Pró-Natureza (Funatura) e pela Conservação Internacional também embasa a ação. Ela indica que, diariamente, 440 hectares de mata nativa de cerrado são cortados só no Vale do Paranã, onde estão as nascentes de alguns dos principais rios do país. Os técnicos prenunciam a extinção do cerrado no Nordeste de Goiás — vizinho ao Distrito Federal — até 2015, caso não sejam tomadas medidas para conter o desmatamento. Sete dos 12 promotores que assinam a ação atuam no Nordeste goiano.

O descumprimento da portaria da Agência Ambiental pode provocar multa de até R$ 180 mil por dia. Para vender e transportar o carvão produzido antes de 1º de janeiro, o produtor deve procurar a Agência Ambiental e retirar o selo de comercialização — ele substituirá os demais selos emitidos pelo órgão, permitindo essas atividades. A troca dos selos pode ser feita até 31 de janeiro. A partir da Operação Carga Limpa, quem for flagrado vendendo ou transportando o carvão sem o selo de comercialização terá toda a carga apreendida.

Negociação
A maior parte da destruição do cerrado goiano é praticada por siderúrgicas instaladas em Sete Lagoas e Divinópolis, na região centro-oeste de Minas Gerais, de acordo com a denúncia do MPGO. As empresas estariam retirando grande quantidade de madeira sem fazer o replantio que compense o dano.

Além da proibição já em vigor, o governo de Goiás está negociando com as siderúrgicas e com o Ministério Público a assinatura de um termo de ajustamento de conduta para resolver o problema do consumo irregular de carvão.

O presidente da Agência Ambiental, Osmar Pires, se diz otimista sobre o acordo entre o governo estadual e os donos das siderúrgicas. ‘‘A lei florestal de Goiás aponta que grandes consumidores de produtos de origem nativa, no caso o carvão, devem ser auto-suficientes; ou seja, precisam plantar a madeira que irão consumir'', explica. ‘‘Mas isso não tem acontecido.''

A negociação, detalha Pires, tem por base três pontos: a identificação de todo o passivo das siderúrgicas, ou seja, o que já consumiram de carvão nativo; a compensação do dano ambiental causado, por meio de programa de reflorestamento, e a indenização ambiental, para incentivar as siderúrgicas a adquirir áreas de preservação ambiental em Goiás.

Os donos das siderúrgicas mineiras acusadas se reuniram com representantes do governo goiano e do MP no fim de dezembro. Os industriais afirmaram que estão replantando a mesma quantidade de área devastada. Eles se comprometeram a financiar o levantamento das terras desmatadas e replantadas para provar que não cometem qualquer irregularidade. O trabalho, que será coordenado pela Agência Ambiental, não tem data para terminar.

Produção
Os empresários alegam que os responsáveis pelos desmatamentos em Goiás são os donos dos terrenos onde as árvores foram derrubadas. ‘‘Nós apenas compramos o produto que nos é oferecido'', afirma o secretário executivo do Sindicato das Empresas Siderúrgicas (Sindfer), Luiz Eduardo Furiati.

Para ele, os industriais mineiros ajudam a resolver dois problemas com a compra do carvão goiano: ‘‘Diminuímos a quantidade de carvão extraído em Minas e compramos o material extraído das fazendas goianas na expansão agropecuária.'' Para Furiati, o cerrado goiano tem sido devastado para dar lugar a pastos e plantações, como a soja.

Há 15 anos, quando a legislação florestal de Minas passou a vigorar, as siderúrgicas mineiras tiveram que recorrer ao carvão de outros estados para manter os fornos em atividade. A lei estadual dá prazo até 2010 para as indústrias se tornarem auto-sustentáveis. Hoje, 15% do carvão consumido pelas siderúrgicas mineiras vêm de Goiás. O restante é extraído em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e nas fazendas das siderúrgicas em Minas.

Para cada tonelada de ferro-gusa produzida é utilizada 0,7 tonelada de carvão vegetal. As 60 siderúrgicas mineiras em atividade produziram 6,5 milhões de toneladas de ferro-gusa no ano passado, o que gerou US$ 1,5 bilhão. Produção recorde. Metade foi exportada. E a expectativa é de que o quadro se mantenha e talvez até melhore em 2005.

Com a alta do dólar e a abertura do mercado chinês, as siderúrgicas começaram a produzir com capacidade máxima nos últimos dois anos. No período, foram abertas ou reativadas 22 indústrias. O aquecimento também abriu 10 mil postos de trabalho. Hoje as 60 siderúrgicas mineiras empregam 25 mil pessoas diretamente.

Reflorestamento de fachada

Desde 1998, um inquérito civil público instaurado pela área ambiental do MPGO apura a investida das siderúrgicas mineiras sobre o Cerrado goiano. Segundo a investigação, o reflorestamento alegado por um grupo de 24 siderúrgicas não passava de um engodo. Áreas de muitos hectares, apontadas num relatório técnico de replantio de eucaliptos, tinham apenas poucas dúzias de mudas.

Parte do trabalho de replantio estava a cargo da Associação das Siderúrgicas para Fomento Florestal (Asiflor), com sede em Belo Horizonte (MG). Um procedimento administrativo sobre a entidade, aberto em 2000 e ainda em andamento na Agência Ambiental de Goiás, apurou ‘‘irregularidades e vícios na prestação de contas.''

Havia casos desvio de autorizações de carvão nativo extraído regularmente para cargas clandestinas e não autorizadas, além de retenção e fraude de guias para encobrir diferenças entre o volume transportado e o montante de carvão autorizado.

O Ministério Público de Minas e a Assembléia Legislativa investigaram, como ação mafiosa, a forma como as siderúrgicas exploram o Cerrado. Em 2004, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) cancelou ou suspendeu mais de 400 processos para licenciamento de corte. O órgão também apreendeu cargas suspeitas de várias transportadoras que seguiam para 11 siderúrgicas de Sete Lagoas e Divinópolis. (RA)

terça-feira, 13 de julho de 2010


Conservação da biodiversidade e áreas protegidas: mundo avança, mas não alcança metas
28 Maio 2010

© Alex SILVEIRA

Espécies de plantas e animais continuam ameaçadas, apesar dos avanços obtidos pela Convenção sobre Diversidade Biológica.

Por Ligia Paes de Barros

Apesar do avanço, o mundo ainda está longe de cumprir as metas referentes às áreas protegidas estabelecidas para 2010 pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). Essa foi a conclusão do secretariado da CDB com base na avaliação geral do Órgão Subsidiário de Aconselhamento Científico, Técnico e Tecnológico (SBSTTA, em inglês) da CDB, que se reuniu de 10 a 21 de maio em Nairóbi.

Essa constatação baseou-se na análise da implementação do Programa de Trabalho de Áreas Protegidas (Powpa), um dos primeiros programas no âmbito da CDB a instituir metas e prazos bem definidos a serem cumpridos pelos países membros.

O Powpa foi elaborado tendo em vista que as áreas protegidas são uma das estratégias mais eficientes para conservação da biodiversidade no mundo O documento contém 16 objetivos específicos que visam, principalmente, à criação e ao fortalecimento de sistemas nacionais e regionais de áreas protegidas.
Mecanismos de identificação e prevenção de ameaças às áreas protegidas, repartição de custos e benefícios dos recursos naturais das áreas e o monitoramento da gestão das mesmas são alguns aspectos contemplados no Powpa.

A avaliação

Apesar de a análise geral do SBSTTA ter apontado que as metas estabelecidas para a maioria dos objetivos do Programa de Trabalho de Áreas Protegidas foram cumpridas apenas parcialmente – e que outras ainda estão muito longe de serem atingidas – alguns pontos apresentaram avanços significativos.
As metas relativas às áreas protegidas foram as que apresentaram maior desempenho por parte dos países signatários dentre as estratégias definidas para a CDB para conservação da biodiversidade.

De acordo com o parecer da CDB, um dos destaques positivos da implementação do Powpa foi a criação e o fortalecimento de áreas protegidas nas áreas terrestres (com 13% da superfície terrestre global em áreas protegidas), embora muito pouco avanço tenha sido observado nas áreas marinhas.

O Brasil teve grande destaque nessa área, uma vez que, de acordo com artigo científico publicado em 2009 por Clinton N. Jenkins e Lucas Joppa, o país é responsável pela criação de 74% do total de áreas protegidas criadas no mundo desde 2003. Além disso, o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), coordenado pelo governo federal brasileiro com o apoio de algumas instituições, entre elas o WWF-Brasil, foi destacado pelo relatório do Panorama Global da Biodiversidade 3 como o maior esforço mundial para criar e gerir unidades de conservação.

Outro ponto em que houve avanço, apesar de não suficiente para atingir a meta estabelecida, foi o desenvolvimento e a aplicação de métodos de monitoramento e avaliação da gestão e implementação das áreas protegidas em nível local, nacional ou regional. O Brasil também contribuiu nessa área com a realização da análise de efetividade da gestão das unidades de conservação federais e parte das unidades estaduais, feita por meio de parceria entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, os governos estaduais e o WWF-Brasil.

Pontos frágeis

O estabelecimento de mecanismos de repartição dos custos e benefícios dos recursos naturais provenientes das áreas protegidas de forma igualitária e justa foi destacado pelo SBSTTA como um dos objetivos do Powpa cujas metas estão mais longe de serem cumpridas globalmente.

Apesar do avanço nas negociações entre os países signatários da CDB, ainda é necessária e urgente a aprovação de um protocolo para a criação de um sistema internacional de acesso aos recursos genéticos e repartição de benefícios, o que deverá ocorrer durante a COP.

Além disso, o ponto referente à participação das comunidades indígenas e locais na gestão das áreas protegidas é indicado na avaliação como muito aquém da meta estabelecida de participação total e efetiva desses grupos na gestão das áreas já existentes e na criação e implementação de novas áreas.

Outros aspectos com pouco progresso e distantes das metas globais são a garantia de recursos técnicos e financeiros para implementação e gestão eficiente das áreas e o estabelecimento de mecanismos efetivos para prevenção e/ou mitigação de ameaças às áreas protegidas.

Desafios

Na avaliação da implementação do Programa de Trabalho de Áreas Protegidas, a CDB também apontou alguns entraves para o cumprimento das metas estabelecidas. Dentre eles, foram destacadas a falta de comprometimento dos governos dos países (leia mais sobre o tema),a integração limitada de áreas protegidas em planos nacionais ou regionais e a falta de recursos humanos e financeiros, além da falta de reconhecimento sobre os benefícios das áreas protegidas na adaptação e mitigação das mudanças climáticas, como desafios a serem vencidos.

Sobre os desafios, Cláudio Maretti, superintendente de conservação do WWF-Brasil, ressalta a necessidade de se prestar atenção na importante relação entre áreas protegidas e mudanças climáticas. “Estudos têm demonstrado que, tanto no caso do Arpa como em geral, a criação e consolidação de áreas protegidas contribuem significativamente para a redução das emissões de carbono. Não se pode ignorar isso”, afirma.

Para o superintendente, que acompanhou a reunião em Nairóbi, a avaliação do secretariado da CDB mostra que muita coisa foi feita, mas as metas para 2010 não foram cumpridas. “Por isso é necessário maior engajamento dos países signatários. Espero que na Conferência das Partes (COP) em outubro, a CDB seja firme em estabelecer metas mais ambiciosas para 2020 e meios de implementação e monitoramento delas”, diz Maretti.

Ele também lembra que o Brasil tem um papel muito importante nesse cenário. “Para que o país alcance a meta estabelecida para 2010, ainda resta proteger aproximadamente 2,5% do território nacional em área terrestre e 8,5% em área marinha, em unidades de conservação. Chegou o momento de o Presidente Lula decidir que legado vai deixar em relação ao meio ambiente ao final de seu mandato”, completa.

Importância das Áreas Protegidas

As áreas protegidas são uma eficiente estratégia para conservação da biodiversidade e por isso desempenham um papel muito importante na manutenção da saúde humana.

Elas são a fonte primária de água para mais de um terço das maiores cidades do mundo e são um fator crucial na garantia da segurança alimentar. Seus benefícios estão muito além das fronteiras das áreas, e seus serviços são essenciais para a economia mundial, para a redução da pobreza e para a promoção do desenvolvimento sustentável.

Além disso, os sistemas de áreas protegidas, quando geridos de modo eficiente, são grandes aliados na mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Nesse Ano Internacional da Biodiversidade, no entanto, vale apontar que as áreas protegidas, o uso sustentável e a repartição de benefícios são apenas uma parte das estratégias de conservação da biodiversidade. “É importante também conhecer e combater as causas das ameaças à biodiversidade e reconhecer seu valor adequado, tanto econômico, como social, cultural e ecológico”, conclui Maretti