domingo, 18 de setembro de 2011

Diversidade biológica do bioma Cerrado é a segunda maior do Brasil



No dia 11 de setembro de 2011 foi comemorado o Dia do Cerrado. Trata-se do segundo maior bioma brasileiro, tanto em extensão (ocupa 24% do território nacional), quanto em diversidade biológica - fica atrás apenas da Amazônia. A riqueza dessa savana tropical é tamanha que ainda são limitados os conhecimentos que se têm dos seus recursos naturais. "A diversidade biológica do Cerrado está ainda na fase de caracterização, não sabemos ao certo quantas ou quais espécies existem. Há apenas estimativas, especialmente quando se fala de invertebrados", afirma Amabílio Camargo, biólogo da Embrapa Cerrados, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

De acordo com o estudioso, doutor em entomologia (ciência que estuda os insetos), estima-se que a diversidade entomológica do Cerrado seja de mais de 90 mil espécies. "A Embrapa Cerrados possui uma coleção representativa de insetos. São cerca de 90 mil exemplares de mais de 20 mil espécies", informa. O biólogo explica que o objetivo de se manter uma coleção desse tipo é reunir dados referentes à biodiversidade da fauna entomológica da região. "Juntamente com os insetos, são organizadas informações sobre local e época de ocorrência, biologia e plantas hospedeiras", explica.

Mas, algumas pessoas poderiam questionar a importância de se coletar, quantificar e identificar essas espécies, já que se trata de uma atividade delicada e trabalhosa - a identificação de insetos muitas vezes requer procedimentos sofisticados e extremamente especializados. De acordo com Amabílio Camargo, essa identificação é importante, pois os insetos estão envolvidos em vários processos e interações ecológicas, destacando-se alguns serviços ambientais como a polinização, dispersão de sementes, ciclagem de nutrientes e a regulação das populações tanto de plantas como de outros animais. "E ao contrário do que acredita a maior parte das pessoas, apenas um pequeno percentual deles, de 8 a 13%, são pragas com alguma importância econômica", observa.

INDICADORES AMBIENTAIS

Mariposas, por exemplo, podem ser utilizadas como indicadoras de sustentabilidade ambiental, explica o biólogo da Embrapa Cerrados. Somente no Cerrado, são conhecidas cerca de 10 mil espécies desses insetos, que possuem hábitos noturnos e se apresentam com poucas cores; ao contrário das borboletas, que possuem hábitos diurnos e são coloridas. Amabílio Camargo explica que muitas dessas mariposas não migram de uma região para outra, ou seja, morrem no mesmo local em que nascem. "Por isso, podem ser um interessante indicador do grau de degradação ambiental de uma área", afirma.

Pesquisas desenvolvidas na Embrapa Cerrados, localizada em Planaltina (DF), estudam justamente insetos com essa característica. "Uma maior diversidade das mariposas residentes, isto é, que não migram, pode sugerir que o local é mais preservado. Caso elas não estejam presentes, indicamos a necessidade de intervir e fazemos algumas recomendações", explica.

Para coletar esses animais, que atingem a fase adulta na época das chuvas, a estratégia dos cientistas é simples: uma lâmpada acesa no meio de seu habitat atrai milhares delas. E a vantagem é que esse procedimento é seletivo. "Apenas as que são de interesse da pesquisa são coletadas para avaliações no laboratório". De acordo com o biólogo, há muitas vantagens neste tipo de coleta. "Podemos ter uma amostra significativa da população, sendo que é relativamente barato montar uma expedição para a captura e observação desses animais", relata.

Nessa época do ano, quando as queimadas acabam se intensificando por conta da seca, as mariposas passam a maior parte do tempo em casulos, enterradas no solo, ou no meio de folhas. Isso as impedem de fugirem em caso de incêndios. Nesse sentido, o biólogo faz um alerta. "Se a ocorrência de fogo for frequente numa mesma área, a população de mariposas, especialmente as polinizadoras, acabará sendo ameaçada. Isso ocasionará, por exemplo, a diminuição da quantidade de frutos, especialmente de plantas nativas".

PARA SABER MAIS

Veja aqui no vídeo produzido no laboratório da coleção entomológica da Embrapa Cerrados como é realizado o processo de dissecação de uma mariposa (procedimento usado para identificação).

FONTE

Embrapa Cerrados
Juliana Caldas

Fauna e Flora do Cerrado de Minas Gerais

A riqueza endêmica e a variedade de espécies - para isso contribuindo a ocorrência dos três biomas nesse território e a fartura de rios, lagos, lagoas que determinam a vasta diversidade de peixes
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Ainda faltam registros centíficos sobre a fauna do Estado de Minas Gerais, sendo que para cada 5 mil km de território mineiro existe apenas uma localidade amostrada, de acordo com a Fundação Biodiversitas. Alguns números, entretanto, apontam para a riqueza endêmica e a variedade de espécies - para isso contribuindo a ocorrência dos três biomas nesse território e a fartura de rios, lagos, lagoas que determinam a vasta diversidade de peixes: das 3 mil espécies brasileiras, 380 ocorrem em Minas (12,5%). Sabe-se, por exemplo, que das 1.678 espécies de aves brasileiras, 46,5% (780 delas) foram verificadas no Estado, várias endêmicas, como o joão-cipó (Asthenes luizae) que habita os campos rupestres da Serra do Espinhaço. Há em Minas Gerais 190 espécies de mamíferos não-aquáticos - o que representa 40% dos catalogados no Brasil; 180 espécies de répteis entre serpentes, lagartos e jacarés, com destaque para as 120 de serpentes - quase metade das catalogadas no país; 200 espécies de anfíbios - 1/3 das que ocorrem no país - sendo vários os gêneros endêmicos de anuros (sapos, rãs e pererecas) da Floresta Atlântica e das serras do Cipó e da Canastra. Os maiores registros da fauna de MInas Gerais dizem respeito ao Bioma de Floresta Atlântica sendo pouco conhecidas as indicações de fauna sobre o Cerrado. Porém, devido ao conhecimento de que, exatamente na porção correspondente a esse ecossistema, há a ocorrência dos corredores mésicos (áreas de temperatura média), aponta-se com precisão para as condições férteis de vida animal no Cerrado.

Diversidade e Endemismo
Espécies Total de Espécies Espécies Endêmicas
Plantas 10.000 4.400
Mamíferos 161 19
Aves 837 29
Répteis 120 24
Anfíbios 150 45
Ainda que existam poucas indicações sobre o tamanho das populações e a dinâmica dos animais que ali vivem, não há dúvida de que a riqueza de espécies e endemismos sejam as características mais importantes dessa fauna. Há algumas ocorrências que podem ser apontadas como típicas nesse bioma. É o caso da jibóia (Boa constrictor), da cascavel (Crotalus durissus), de várias espécies de jararaca, do lagarto teiú (Tupinambis merianae), da ema (Rhea americana), da seriema (Caraiama cristata), do joão-de-barro (Furnarius rufus), do anu-preto (Crotophaga ani), da curicaca, do urubu-caçador, do urubu-rei, de araras, tucanos, papagaios e gaviões, do tatu-peba, do tatu-galinha, do tatu-canastra (Priodontes maximus), do tatu-de-rabo-mole, do tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e do tamanduá-mirim, do veado-campeiro (Ozotocerus bezoarticus), do cateto, da anta, do cachorro-do-mato, do cachoro-vinagre (Speothos venaticus), do lobo-guará (Crysocyon brachyurus), da jaguatirica, do gato-mourisco, e muito raramente da onça-parda (Puma concolor) e da onça-pintada (Panthera onca).
Recentemente, uma surpreendente quantidade de informação foi reunida sobre os invertebrados do Cerrado, num trabalho realizado pela Base de Dados Tropical. Descobiu-se que a representatividade da fauna regional em relação à brasileira varia entre os grupos, indo de menos de 20% (abelhas e formigas) e mais de 50% para os lepidópteros (mariposas e borboletas). O número de espécies estimado para o Cerrado é de 14.425 e representa 47% da fauna estimada para o Brasil.

Espécies Ameaçadas de Extinção
Taxon Espécies Ameaçadas Espécies Presumivelmente Ameaçadas
EX CR EP VU Total
Mamíferos 05 13 12 10 40 25
Aves 04 12 27 40 83 64
Répteis - 03 02 05 10 15
Anfíbios - - 01 10 11 17
Peixes - 01 - 02 03 32
Invertebrados 03 04 13 11 31 12
Total 12 33 55 78 178 165
EX - Provavelmente extinta; CR - Criticamente Ameaçada; EP - Em Perigo; VU - Vulnerável.
Fonte: Fundação Biodiversitas, 1998. Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna de Minas Gerais
Destacando-se como um belo cenário na região central o nosso país, entre a Floresta Atlântica e a Floresta Amazônica, o Cerrado ocupa mais de 22% das terras brasileiras. É um conjunto de vários tipos de vegetação, formando uma bonita paisagem na qual pode-se encontrar, em meio às formações características do Cerrado, algumas formações pertencentes a outros biomas. Este mosaico de fisionomias é extremamente importante do ponto de vista da biodiversidade, pos reúne uma grande variedade de plantas e animais.
Devido ao seu grande valor biológico, o Cerrado tem sido alvo de enorme interesse por parte de entidades e pesquisadores preocupados com o futuro deste patrimônio. Em 1998, várias entidades ligadas à preservação ambiental realizaram o workshop "Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Cerrado e Pantanal", onde foram identificadas as regiões mais carentes de conhecimentos e proteção e discutidas estratégias para conservação e uso dos recursos bióticos. Este workshop representou um passo importante, pois, além de ter alertado para a necessidade de se reverter o processo de degradação do Cerrado, continua a subsidiar ações para a manutenção da sua bioiversidade.
Flora do Cerrado
Ocupando mais de 1,8 milhões de ha, o Cerrado é o segundo maior bioma do continente sul-americano. Sua cobertura vegetal não é uniforme, mas sim, composta por vários tipos de fisionomias formando um complexo vegetacional. Por toda a sua extenção, há elementos de outros biomas, e, por isso, costuma-se falar em "Domínio do Cerrado" quando se quer designar o conjunto de todos os tipos de vegetação que ocorrem no Cerrado, e Bioma do Cerrado para se referir apenas às suas fisionomias típicas. São reconhecidos cinco tipos principais de vegetação do Bioma do Cerrado: Cerradão, Cerrado sensu strictu, Campo Cerrado, Campo Sujo e Campo Limpo, onde variam a composição dos estratos arbóreos, arbustivos e herbáceos. As veredas, as Matas Ciliares e as Matas Mesófilas também ocorrem no Cerrado, entretanto, estas fisionomias vegetais não são exclusivas deste domínio.
Dos tipos de vegetação características do Bioma do Cerrado, o Cerrado é o que apresenta maior densidade de árvores. Além disso, as árvores são mais altas, menos tortuosas e suas cascas são mais finas que as do Cerrado típico. Há muitos arbustos e o estrato herbáceo é discreto. Plantas como a lixeira (Curatella americana) e o caqui-do-mato (Diospyros brasiliensis) produzem frutos muito apreciados pela fauna que reside ou visita o Cerradão. Nesta formação também são encontradas plantas importantes para o homem, como a copaíba (Copaifera langsdorffii), árvore da qual se extrai óleo de copaíba ou bálsamo, nomes dados ao produto natural retirado de seu tronco através de perfurações profundas. Essa substância possui muitas propriedades terapêuticas, sendo usada principalmente como cicatrizes e antiinflamatório.
O Cerrado sensu strictu, ou Cerrado típico, é formado por árvores baixas e tortas, juntamente com arbustos diversos, distribuídos de forma esparsa em um solo coberto de gramíneas. As cascas das árvores são muito grossas, o que ajuda a protegê-las dos efeitos do fogo, um evento comum nos cerrados de todo o Brasil. Neste ambiente pode ser encontrada a catuaba (Anemopaegma arvense), uma das plantas medicinais mais comuns do Brasil. De propriedades afrodisíacas e estimulantes, essa planta de sabor amargo já era conhecida pelos índios que habitavam o Cerrado mesmo antes de sua colonização. Também presente nesta fisionomia, o jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa) oferece muitos benefícios ao homem. Seus frutos são comestíveis e altamente nutritivos, a sua casca pode ser utilizada como remédio, e a madeira dura e resistente, é empregada na construção civil e naval.
O pequi (Caryocar brasiliense) é outra planta importante. Seus frutos são saborosos e ricos em vitamina A, sendo muito utilizados na culinária regional. Comum também é o murici (Byrsonima verbascifolia), que pode ser aproveitado de várias maneiras. Seus frutos são comestíveis, a madeira é utilizada na construção civil e na marcenaria e sua casca possui propriedades medicinais. As cascas do barbatimão (Stryphnodendron adstringens) também são muito conhecidas por suas propriedades medicinais, sendo utilizadas para vários fins variados. Além disso, o tanino extraído delas constitui matéria-prima de curtumes.
Uma planta de admirável beleza é o ipê-amarelo (Tabebuia aurea), que fica coberto de flores na estação seca. Essa árvore é bastante ornamental e vem sendo empregada com sucesso na arborização de ruas e praças. O Campo Cerrado apresenta uma composição semelhante ao Cerrado sensu strictu, porém a vegetação é mais baixa e as árvores mais espaçadas, com predomínio de arbustos de várias espécies. A rosa-do-cerrado (Kielmeyra rubriflora) é uma das plantas mais atraentes, embelezando os campos cerrados com suas flores róseas e delicadas. A fruta-de-boi (Diospyros hispida) possui frutos comestíveis de sabor adocicado, enquanto a fruta-de-ema (Couepia grandiflora) é muito procura pela fauna na época de sua frutificação.
O Campo Sujo, encontrado em áreas de solo raso, apresenta-se dominado por gramíneas, embora outras espécies de porte herbáceo também se mostrem presentes. Os poucos arbustos e árvores ocorrem normalmente agrupados em pequenas ilhas de vegetação, onde a composição florística é similar à do Cerrado típico.
No Campo Limpo, a vegetação é composta quase que exclusivamente de gramíneas e algumas cipéraceas. Há também várias orquídeas que embelezam o cenário com suas flores delicadas. Pode-se encontrar um ou outro arbusto, mas estes são raros e muito espaçados entre si.
As Matas Ciliares ocorrem ao longo dos rios de toda a região dos Cerrados. Além de proteger os mananciais, servem de refúgio para a fauna típica da mata, que encontra aí um ambiente mais úmido e de temperatura mais branda. Essas matas também desempenham papéis estratégicos como corredores ecológicos.
Nas veredas ou Buritizais, áreas úmidas de nascentes, o buriti (Mauritia flexuosa) é a planta dominante. Além de ser uma planta de extraordinária beleza, o buriti é uma palmeira valiosa, pois desempenha um papel ecológico fundamental no Cerrado. Seus frutos são a base da alimentação de muitos animais, principalmente aves e roedores. Diferentes partes dessa planta são usadas pelo homem para o preparo de alimentos, artesanatos e em construções rurais. A indústria cosmética também já descobriu o valor do buriti e vem comercializando vários produtos feitos à base do óleo de seus frutos.
As Matas Mesófilas são formações florestais situadas em solos de boa qualidade. São caracterizadas pela presença de uma grande quantidade de madeira-de-lei, e por isso, são constantemente degradadas pela extração madeireira. Entre as espécies vegetais presentes, por exemplo, a copaíba (Copaifera langsdorffii), o jatobá-da-mata (Hymenaea cobaril) a aroeira (Myracroduon urundeuva) e o angico (Anadenanthera colubrina). Das espécies de plantas do Cerrado, pouquíssimas também são encontradas em outras matas. É o caso da maria-mole (Guapira opposita), do pau-de-tucano (Vochysia tucanorum) e do pau-pombo (Tapirira guianensis). Este alto grau de endemismo é um dos motivos pelos quais o Cerrado deveria receber mais atenção no que diz respeito à sua conservação. Esperando que suas propriedades terapêuticas ou nutricionais sejam descobertas, inúmeras plantas exclusivas do Cerrado poderão um dia, ajudar a melhorar a qualidade de vida da população humana.
Fonte parcial: Guia Ilustrado de Animais do Cerrado de Minas Gerais. 2.° edição. CEMIG. Editare Editora, 2003.